Joe Biden sobre decisão de levantar restrições. É "pensamento Neandertal"

por RTP
Joe Biden, Presidente dos EUA, em março de 2021 Reuters

Alguns governadores norte-americanos decidiram levantar nos seus Estados as restrições de controlo da pandemia e foram acusados pelo Presidente de estarem a pensar como homens das cavernas.

"A última coisa de que precisamos é de pensamento Neandertal", afirmou Joe Biden esta quarta-feira, considerando a decisão "um enorme erro".

O primeiro a anunciar o fim das restrições foi o Texas, com o governador na terça-feira a considerar que o Estado tem os meios para garantir a segurança dos seus cidadãos. Por isso, Greg Abbott decidiu pôr fim ao seu decreto de uso obrigatório de máscara, em vigor desde julho passado, e permitir a reabertura da economia a 100 por cento.

Quarta-feira foi seguido por Tate Reeves, governador do Mississipi, quanto ao fim das máscaras. "Chegou a altura", tweetou.

Joe Biden sempre defendeu restrições apertadas contra a Covid-19 e não deixou de exprimir a sua frustração com a pressa dos governadores contra o conselho dos responsáveis máximos federais. "Espero que todos tenham já percebido que estas máscaras fazem a diferença", sublinhou o Presidente. Os Estados Unidos estavam "prestes a conseguir mudar fundamentalmente a natureza desta doença" através da distribuição das vacinas, afirmou Biden. "A última coisa de que precisamos é de pensamento Neandertal de que, entretanto, está tudo bem".

Não foram só os republicanos a levantar restrições impostas pela pandemia.

No Michigan, a governadora democrata, Gretchen Whitmer, decidiu aligeirar os limites impostos à capacidade de restaurantes e de reunião em lugares públicos e residenciais.

E Mario Cuomo, o democrata que governa Nova Iorque, um dos Estados mais atingidos pela pandemia, autorizou a retoma de atividades não essenciais, como a frequentação de cinemas ou o serviço de refeições dentro de restaurantes, e bodas com até 150 pessoas.
"Não é o momento"
Os Estados Unidos são o país do mundo mais afetado pela Covid-19 e a vacinação é encarada como a tábua de salvação. Terça-feira, foi com otimismo que Biden anunciou que será possível vacinar todos os adultos norte-americanos antes do previsto. Uma antecipação aberta pela farmacêutica Merck que decidiu fabricar a vacina da rival Johnson&Johnson, entretanto aprovada pela autoridade norte-americana para os medicamentos.

As decisões do Texas, do Mississipi e do Michigan, tornaram o triunfo de Biden mais amargo e provocaram um coro de reprovações.

"Fomos muito claros, este não é o momento de aligeirar todas as restrições. O próximo mês e o seguinte são realmente decisivos", afirmou a Drª Rochelle Walensky, diretora do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, CDC.

E deixou alertas. "Estamos num ponto crítico na pandemia. Tanto pode mudar de rumo nas próximas semanas".

Numa conferência a partir da Casa Branca, a mesma responsável reconheceu que o número de novos casos no país está "a estabilizar", mas lembrou que as variantes do coronavírus estão "a postos para roubar os nossos sucessos".

O aviso é especialmente dirigido ao Texas, onde se começaram a registar variantes perigosas.

O Estado foi duramente atingido pelo coronavírus, e conta já com 2.7 milhões de casos sendo registados diariamente mais de 7.000 novos contágios. Entre os 517 mil mortos de todo o país, 44 mil eram texanos. E a vacinação está atrasada em relação à média nacional, com apenas sete por cento da população a ter sido inoculada até agora.
Apelos aos cidadãos
Se muitos texanos sentem alívio pelo levantamento das restrições, muitos outros não poupam críticas e acusam Greg Abbot de estar a tentar varrer para baixo do tapete as críticas quanto ao seu desempenho e à falha generalizada das infraestruturas, de água e de eletricidade, na recente tempestade de neve brutal que assolou o Estado.

Um deles foi edil de Houston, a maior cidade do Texas. "É um passo na direção errada", afirmou Sylvester Turner. "A não ser que o governador esteja a tentar desviar o que aconteceu há pouco mais de duas semanas". "Estou muito desapontado. Não faz sentido nenhum", sublinhou Turner. Também o governador de Nova Iorque, o democrata Mario Cuomo, está sob o fogo de acusações de assédio sexual, que disse terem sido "brincadeira", depois da sua gestão da pandemia ter sido posta em causa.

Abbot defendeu a sua decisão de reabrir a economia, aplaudindo a responsabilidade dos texanos, mesmo se duas das maiores empregadoras do Estado, a GM Motors e a Toyota, já disseram que não vão alterar as restrições nas suas fábricas.

"Não tenham dúvidas. A Covid-19 não desapareceu, mas é claro pelas recuperações, vacinações, reduções de hospitalização e pelas condutas de salvaguarda que os texanos estão a praticar, que as ordens estatais já não são necessárias", afirmou Abbot.

Também Reeves decidiu confiar nos seus cidadãos. "Os mississipianos não precisam de controladores", disse. "À medida que os números descem, podem fazer as suas opções e ouvir os especialistas. Acho que penso apenas que devemos confiar nos americanos, não insultá-los".

Reeves aconselhou-os contudo a "fazer o correcto" e a usar máscara.

Um convite que fez eco do apelo de Biden. O Presidente pediu aos norte-americanos para continuarem a usar máscara para limitar o alastrar do vírus. "Este não é momento de abrandar", explicou. "Há uma luz ao fundo do túnel mas ainda não terminou".

Joe Biden admitiu terça-feira que talvez só daqui a um ano seja possível decretar o fim do alarme pandémico.
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