Lesbos. Governo grego nega ajuda a crianças com doenças crónicas

por RTP
Crianças brincam no campo de Moria, em Lesbos Reuters

Os Médicos Sem Fronteiras denunciam a situação de centenas de crianças no campo de Moria, em Lesbos. A organização acusa o governo grego de negar deliberadamente ajuda médica a várias crianças com doenças crónicas e pede que sejam evacuadas e tratadas em hospitais na Grécia continental.

Mais de 100 crianças com doenças crónicas, refugiadas no campo de Moria, precisam de cuidados médicos de forma urgente. A organização Médicos Sem Fronteiras acusa o governo grego de cinismo por não permitir a refugiados sem documentação acesso a cuidados de saúde.

“Vemos muitas crianças a sofrer de doenças graves, como diabetes, asma e condições cardíacas, que são forçadas a viver em tendas, em condições de pouca higiene, sem acesso a tratamento médico especializado e à medicação que necessitam”, diz a médica Hilde Vochten, coordenadora médica dos Médicos Sem Fronteiras na Grécia.

“Os Médicos sem Fronteiras estão em conversações com as autoridades gregas para transferir crianças para a Grécia continental para receberem tratamento médico urgente e apesar de algumas crianças terem sido examinadas, nenhuma delas foi transferida”, continuou a médica.

Hilde Vochten considera “ultrajante” que o governo grego continue a negar acesso a tratamentos médicos por parte dos refugiados e avisa que a má vontade do executivo pode levar a consequências graves na saúde das crianças ou até mesmo a morte.

O problema surge devido a uma medida adotada pelo governo grego em julho de 2019, em que foi negado o acesso ao serviço público de saúde por parte de refugiados que chegaram à Grécia sem documentação. Mais de 55 mil pessoas foram afetadas por esta decisão.

O centro pediátrico de Moria, dos Médicos Sem Fronteiras, tem relatado vários casos de crianças que apresentam casos médicos complexos, com algumas a sofrerem de condições crónicas.

Doenças como epilepsia, diabetes e asma necessitam de tratamentos continuados e especializados e a organização não dispõe dos equipamentos necessários para tratar dos doentes. O hospital de Lesbos também não apto para tratar estas crianças.

Não é a primeira vez que os Médicos Sem Fronteiras denunciam a situação precária em que vivem os refugiados em Moria, devido a políticas dos executivos dos países que acolhem.

Tommaso Santo, diretor-geral da missão dos Médicos Sem Fronteiras na Grécia, avisou que "crianças, mulheres e homens estão a pagar o preço das políticas de migração baseadas e dissuasão. Negar às crianças que sofrem de graves doenças o acesso ao serviço de saúde é um ato de cinismo e algo verdadeiramente inacreditável”.
pub