Líder de movimento separatista anglófono nos Camarões condenado a prisão perpétua

por Lusa

Yaoundé, 20 ago 2019 (Lusa) - O líder de um movimento separatista anglófono camaronês, assim como nove dos seus seguidores, foram hoje condenados a prisão perpétua num tribunal militar, noticia hoje a agência France-Presse.

Julius Sisiku Ayuk Tabe e os restantes nove condenados foram acusados de ofensas como "terrorismo e secessão", anunciou um advogado ligado ao processo, citado pela AFP.

A sentença atribuída na capital camaronesa, Yaoundé, foi confirmada pelo advogado dos separatistas, Joseph Fru, que condenou o que diz ser uma "paródia da justiça".

Os arguidos recusaram-se a reconhecer um julgamento conduzido por um tribunal militar, sendo que os seus advogados não especificaram se vão ou não recorrer da decisão.

Ayuk Tabe, 54 anos, assume-se como o primeiro Presidente da `Ambazónia`, um estado separatista declarado em outubro de 2017 em duas regiões anglófonas dos Camarões.

O movimento separatista levou a que o Governo respondesse com uma operação de repressão militar, com os confrontos entre os dois lados a provocarem 1.850 mortos, de acordo com a organização não-governamental International Crisis Group (ICG). As Nações Unidas referem que estes conflitos levaram a que 530.000 pessoas abandonassem as suas casas.

A população anglófona camaronesa representa cerca de 20% dos 24 milhões de habitantes naquele país da África Central, sendo que a grande maioria se encontra nas regiões fronteiriças com a Nigéria.

Os anglófonos camaroneses acusam a maioria francesa de discriminação na educação, justiça e nas oportunidades económicas.

Ayuk Tabe, que defende o diálogo com o Presidente do país, Paul Biya, foi detido em janeiro de 2018 na capital da Nigéria, Abuja, assim como outros 46 separatistas.

Os detidos foram extraditados para os Camarões, uma decisão que a justiça nigeriana considerou ilegal.

Em finais de maio, Ayuk Tabe disse estar disposto a dialogar com o Governo camaronês em território estrangeiro, caso as autoridades dos Camarões libertassem os separatistas detidos.

Em julho, a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) acusou as forças de segurança de cometerem crimes contra civis, incluindo homicídios arbitrários e uso de força excessiva, acusações que o as autoridades reconheceram parcialmente.

A mesma organização acusou hoje as autoridades camaronesas de manterem cem pessoas detidas e incomunicáveis em Yaoundé, apontando casos de tortura contra "muitos destes", sendo que vários dos detidos eram acusados de apoiarem ou de estarem envolvidos em grupos separatistas armados em regiões anglófonas do país.

"Estes relatos credíveis de tortura e abuso pela Secretaria de Estado da Defesa não são, infelizmente, os primeiros, mas os mais recentes", afirmou o diretor da HRW para a África Central, Lewis Mudge.

"A aparente fé das forças de segurança que acreditam que são livres de torturar ou de abusar de detidos é uma consequência direta da indiferença do Governo camaronês", acrescentou o responsável.

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