Liga dos Jovens da ZANU-PF apela à demissão de Mugabe e à expulsão de Grace do partido

por Lusa
Mary Turner - Reuters

Harare, 19 nov (Lusa) -- A influente Liga dos Jovens da ZANU-PF pediu hoje a Robert Mugabe que se demita do cargo de Presidente e exigiu a "expulsão" de Grace Mugabe do partido no poder no Zimbabué desde a independência, em 1980.

“Exigimos a expulsão para sempre da senhora (Grace) Mugabe da ZANU-PF e que o Presidente Mugabe que se demita do cargo de Presidente e de primeiro secretário do partido e também da Presidência da República”, indicou a Liga num comunicado, no rescaldo das grandes manifestações de sábado contra o chefe de Estado.

Segundo a líder da Liga dos Jovens da União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF), Yeukai Simbanegavi, “chegou a hora de Mugabe descansar” com o estatuto de “decano dos estadistas”.

Simbanegavi, por outro lado, elogiou o exército zimbabueano pela forma como liderou a operação contra “os criminosos” ligados ao regime de Robert Mugabe que, acusam, são liderados por Grace.

“É uma pena que o Presidente tenha permitido a Grace usurpar-lhe a autoridade executiva, destruindo tanto o partido como o Governo”, acrescentou a líder da juventude partidária.

Simbanegavi adiantou ainda que outra das reivindicações da Liga dos Jovens é a reintegração de Emmerson Mnangawa como vice-Presidente do Zimbabué.

Mnangawa foi exonerado por Mugabe, aparentemente numa jogada política delineada por Grace Mugabe, cujas ambições políticas passam por substituir o marido nas funções de Presidente do Zimbabué.

Os apelos da juventude partidária da ZANU-PF surgiram antes de uma reunião da direção nacional do partido destinada a analisar os pedidos vindos de quase todo os quadrantes nacionais, bem como da parte da comunidade internacional, que defendem a demissão de Mugabe.

A reunião da direção nacional, por sua vez, foi antecedida por uma outra, apenas com um número reduzido de altas personalidades da ZANU-PF, encontros que decorrem na sede do partido, em Harare, onde a polícia e o exército inspecionam minuciosamente todas as entradas no parque de estacionamento do edifício.

O exército zimbabueano mantém Mugabe sob residência vigiada, após ter avançado com a operação militar, que negam tratar-se de um golpe de Estado, depois de o presidente ter exonerado o vice-Presidente do país.

Ao lado do edifício da sede do partido, um cartaz de grandes dimensões com a imagem de Mugabe foi parcialmente rasgado, provavelmente por manifestantes que percorreram no sábado a capital, Harare, para exigir a resignação do chefe de Estado, de 93 anos.

No rescaldo das grandes manifestações pacíficas de sábado, a reunião de urgência do Comité Central da ZANU-PF, exigida e convocada pelas diferentes estruturas regionais do partido, aguarda-se que a exoneração de Mugabe abra caminho a reintegração de Mnangagwa, que, por sua vez, deverá assumir a liderança de um novo Governo até às eleições gerais de 2018.

A confirmar-se este cenário, a destituição de Mugabe é o passo seguinte, que terá de ser confirmada pelo Parlamento, medida que o líder parlamentar do maior partido da oposição, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC, sigla em inglês), Innocent Gonese, garante que vai fazer avançar no parlamento zimbabueano após discutir a questão com a ZANU-PF.

“Se Mugabe não sair até terça-feira, é claro, tal como o sol nasce no oriente, o processo de destituição avançará”, frisou Gonese.

As conversações de Mugabe com o seu ex-comandante do exército Constantino Chiwenga estão na segunda ronda e as Forças Armadas tudo estão a fazer para evitar uma acusação internacional de golpe de Estado, algo que a União Africana (UA) já veio a público defender que não aceitará.

Fontes oficiais de ambas as partes não têm revelado pormenores sobre as negociações, mas os militares parecem querer defender uma resignação voluntária de Mugabe para manter a legalidade na transição política que, inevitavelmente, se seguirá.

A intransigência de Mugabe em deixar o poder tem sido, referem analistas locais e internacionais, uma forma de o Presidente zimbabueano contar com o apoio da UA e da comunidade internacional para preservar o seu legado como um dos líderes da libertação de África, bem como para proteger-se, tal como a família, de possíveis processos judiciais.

 

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