Má qualidade do sono pode provocar Alzheimer

por RTP
David Loh - Reuters

Dois estudos encontraram modificações na estrutura cerebral ligada à má qualidade do sono que podem ser responsáveis pelo desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Um estudo de um grupo de investigadores suecos, publicado na revista científica Neurology, reuniu 15 pessoas saudáveis, todos com idades próximas ou iguais a 22 anos e sem transtornos relacionados com o sono.

Numa primeira fase, foi permitido aos jovens dormir duas noites de sono com normalidade. Na segunda fase do estudo, apenas foi permitido que os jovens dormissem uma noite tranquilamente, tendo sido privados do sono na segunda noite.

Com a privação da segunda noite de sono, os cientistas conseguiram perceber que os níveis da proteína TAU – estabilizadora da composição interna das células nervosas do cérebro – aumentaram cerca de 17 por cento, em comparação com dois por cento, na noite normal de sono.

“O nosso estudo sugere que a perda aguda de sono causa um aumento nos níveis sanguíneos de TAU. Essas alterações fornecem evidências adicionais de que a perda de sono pode ter efeitos prejudiciais à saúde do cérebro, mesmo em indivíduos mais jovens”, afirmam os investigadores, citados por El País.A proteína beta-amiloide é o conjunto de peptídeos e aminoácidos que se aglomeram, formando placas de beta-amiloide. Esta acumulação surge nas imagens do tecido cerebral como manchas escuras, e acontece fora das células muito antes dos primeiros sinais da doença.


O estudo avança que foi encontrado, no líquido cefalorraquidiano – que fornece nutrientes indispensáveis para o cérebro e protege mecanicamente as células cerebrais e removem os produtos da atividade do sistema nervoso –, um aumento das proteínas TAU e beta-amiloide, durante a privação do sono.

Em Espanha, a Fundação Pasqual Maragall, especializada na pesquisa de Alzheimer, realizou uma investigação com pessoas saudáveis e descobriu que as pessoas que com insónias apresentam mudanças em algumas zonas do cérebro que também são afetadas nos estágios iniciais do Alzheimer.

O diretor da Unidade de Memória do Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Creu i Sant Pau de Barcelona, Alberto Lleó, citado por El País, afirma: “As insónias são um fator de risco. Não causam, só por si, o alzheimer, mas aumentam o risco de demência. Os mecanismos não são claros. O que sabemos é que durante a noite, o cérebro aproveita para eliminar as proteínas residuais”.

Embora não tenha participado nos estudos publicados, o neurologista admite que eles “demonstram que as insónias produzem alterações biológicas, uma ao nível da estrutura cerebral e outra através de exames de sangue”.

Anteriormente, um estudo divulgado pela publicação Annals of Neurology, em 2018, já tinha indicado que privação do sono aumentava os níveis da proteína beta-amiloide entre 25 a 30 por cento.

Lléo acredita que “para que essas alterações sejam relevantes, os distúrbios do sono devem durar muitos anos e também dependem da sua intensidade”.

O neurologista e a sua equipa participaram em estudos onde descobriram que os distúrbios do sono são muito comuns em pessoas com síndrome de Down, tornando este grupo vulnerável ao Alzheimer.

Os cientistas sabem que, durante o sono, os mecanismos que ajudam a limpar os resíduos do metabolismo cerebral são ativados quando uma pessoa está acordada, produzindo a proteína TAU e beta-amiloide.

“As investigações dizem-nos que acumular a proteína TAU no cérebro não é bom. No entanto, são necessários mais estudos relacionados com este assunto ”, afirmam os investigadores.
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