Macron reunido com sindicatos e responsáveis políticos em dia de discurso à nação

por Andreia Martins - RTP
Stephane Mahe - Reuters

Ao final do dia, Emmanuel Macron fará a primeira intervenção pública sobre os “coletes amarelos”, num discurso à nação marcado para as 20h00 locais (19h00 em Lisboa). Antes disso, o Presidente francês vai estar reunido esta manhã de segunda-feira com sindicatos, organizações patronais e os líderes das duas câmaras do Parlamento francês.

Antes de quebrar o longo silêncio com um discurso à nação – o primeiro desde o início do protesto dos coletes amarelos -, Emmanuel Macron encontra-se reunido esta manhã, desde as 9h30, com várias confederações sindicais e organizações patronais.

O encontro no Palácio do Eliseu acontece depois de mais uma jornada de violentos protestos que varreram Paris e outras cidades francesas.

Para além dos parceiros sociais, o chefe de Estado francês recebe também esta segunda-feira os presidentes do Senado, Gérard Larcher, da Assembleia Nacional, Richard Ferrand, e ainda do Conselho Económico, Social e Ambiental, Patrick Bernasconi.  

“Neste grave momento que a nação atravessa”, o Presidente irá consultar “todas as forças políticas, territoriais, económicas e sociais (…) a fim de ouvir as suas vozes, as suas propostas, com o objetivo de os mobilizar para a ação”, segundo afirmou o Palácio do Eliseu, citado pela agência France Presse.
Desde que começaram as grandes manifestações das últimas semanas, o primeiro-ministro francês Édouard Philippe tem sido o principal interlocutor dos manifestantes. 

Pela quarta semana consecutiva, os franceses saíram à rua vestidos com coletes amarelos para protestar contra o Presidente e o Governo francês. O que começou por ser uma reclamação contra o aumento do preço dos combustíveis, inicialmente previsto para o próximo ano, transformou-se numa manifestação generalizada pela recuperação do poder de compra dos franceses. Muitos exigem também a demissão de Emmanuel Macron, quando se completam 18 meses desde que foi eleito, em maio de 2017. 

Na tentativa de acorrer às exigências deste protesto, o Governo francês anunciou na semana passada, a 4 de dezembro, a suspensão por seis meses do aumento da taxa sobre os combustíveis, também conhecida por eco-imposto, porque sugerida invocando o cumprimento de metas ambientais. No dia seguinte, este aumento acabou mesmo por ser suspenso por um ano por decisão do Presidente francês.  

No entanto, o recuo presidencial não foi suficiente para atenuar a revolta. Agora, os sindicatos e principais representantes exigem o aumento do salário mínimo nacional em pelo menos 100 euros, bem como a reposição do imposto sobre as fortunas – também conhecido como ISF ou imposto de solidariedade sobre fortunas - que Emmanuel Macron suprimiu desde o início do ano.  


No último fim de semana, os protestos juntaram quase 140 mil manifestantes. Pelo menos duas mil pessoas foram identificadas e mais de 1.700 foram detidas, segundo os dados do Ministério francês do Interior.  

Mais de 130 pessoas ficaram feridas, incluindo 17 elementos das forças policiais destacadas. Para este protesto de sábado foram mobilizados 89 mil agentes, sendo que vários museus e espaços turísticos estiveram fechados.

O receio de uma maior escalada de violência levou mesmo ao adiamento de espetáculos e de alguns jogos da Ligue 1, o campeonato francês de futebol.  
Recuo no crescimento

Independentemente do acolhimento que tiverem as palavras de Emmanuel Macron no seio da sociedade francesa, já se contabilizam perdas significativas na sequência destes protestos.  

Em entrevista esta manhã à rádio RTL, o ministro da Economia e das Finanças, Bruno Le Maire, confirmou que os bloqueios das estradas no interior e os prejuízos no turismo e comércio no último mês vão levar a um recuo de 0.1 por cento do crescimento económico francês no quarto trimestre do ano.

Segundo as anteriores estimativas do Governo, o crescimento previsto para todo o ano de 2018 é de 1,7%.  

No domingo, o ministro realçava o efeito “desastroso” destes protestos para o comércio e para a economia, uma vez que várias lojas estiveram fechadas durante o dia de sábado. “Este é um período em que o comércio corre bem, estamos na véspera do Natal, é uma catástrofe”, lamentou. 

Segundo a Federação do Comércio e Distribuição, o setor poderá perder mais de 1.000 milhões de euros em faturação. Em entrevista ao Le Journal du Dimanche, François Asselin, presidente da Confederação de Pequenas e Médias Empresas, advertiu que haverá "muitas quebras", com perdas que poderão chegar aos 10 mil milhões de euros.

Anne Hidalgo, prefeita da cidade de Paris, escreveu no Twitter que os danos materiais e simbólicos são “incomensuráveis” para a capital francesa. No protesto de 1 de dezembro, vários manifestantes vandalizaram o Arco do Triunfo, um dos principais monumentos nacionais.   

“Centenas de lojas e edifícios públicos foram impedidos de abrir, houve estragos em vários distritos, a vida cultural e económica está paralisada e há uma imagem internacional a restaurar”, considerou a autarca.

Durante o fim de semana, o Presidente norte-americano mostrou um apoio velado aos "coletes amarelos" e ao mesmo tempo um ataque ao Acordo de Paris, pacto do qual retirou os Estados Unidos no ano passado.

Donald Trump  mencionou os protestos e motins por toda a França, concluindo que "as pessoas não querem pagar avultadas somas de dinheiro a países do terceiro mundo, talvez para protegerem o meio ambiente".

Em resposta à provocação, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, pediu ao líder norte-americano para não se intrometer nos assuntos internos.

“Digo a Donald Trump e o Presidente da República diz-lhe igualmente: nós não participamos nos debates norte-americanos, deixe-nos viver a nossa vida”, disse durante uma entrevista televisiva.

Perante este cenário, prevê-se que o Presidente francês tente “unir o país” no discurso desta segunda-feira, segundo o ministro da Economia e das Finanças, Bruno Le Maire.  

“Espera-se que Emmanuel Macron apresente o seu mea culpa sobre o que tem sido percecionado como arrogância e desprezo, tanto pela classe média e popular, como pelos organismos intermediários", escreve esta segunda-feira o diário Libération.  

(com agências internacionais)
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