Ainda nos primeiros tempos da pandemia, em 2020 quando os casos de contágio não paravam de aumentar no Reino Unido, Boris Johnson terá confessado ao seu conselheiro que estava preocupado com o processo de testagem da Covid-19 e criticado o ministro da Saúde, Matt Hancock, por não estarem a ser alcançadas as metas que prometeu. Dominic Cummings revelou, esta quarta-feira, mensagens de WhatsApp que trocou com o primeiro-ministro britânico, nas quais Johnson comenta que Hancock não tem "salvação possível".
"Não tem salvação possível" [tradução livre sem os termos ofensivos], terá respondido Boris Johnson.
86/ Evidence on the covid disaster: as the PM said himself, Hancock's performance on testing, procurement, PPE, care homes etc was 'totally fucking hopeless', & his account to MPs was fiction: https://t.co/lur4Ddrddy pic.twitter.com/JVGLCSov7v
— Dominic Cummings (@Dominic2306) June 16, 2021
A compra e distribuição de material de proteção individual, por exemplo, foi "um desastre", terá confessado a Cummings. Mas as revelações do ex-assessor deixam implícito que o primeiro-ministro ainda ponderou demitir o ministro da Saúde.
"Não consigo pensar em nenhuma solução sem ser tirarmos o Hancock e passarmos isto para o Gove", escreveu ainda o primeiro-ministro, referindo-se a Michael Gove, ministro da Presidência.
"Os testes, assim como as vacinas, foram retirados do seu controlo em maio por causa da sua incompetência e desonestidade", escreveu Cummings no Substack.
"Se o N.º10 está preparado para mentir tão profunda e amplamente sobre tais questões de vida e morte no ano passado, não se pode confiar agora, sobre a Covid ou sobre qualquer outra questão crucial de guerra e paz", acrescentou.
"Quando as coisas começavam a ficar um pouco mais embaraçosas, o PM dizia ‘bom, vamos lá para offline’, gritava 'a vitória é o caminho’ e saía da sala com os dois polegares erguidos antes de alguém poder discordar do que quer que fosse".
Whatever the merits of his argument, Dominic Cummings’ characterisation of Boris Johnson as equal parts Colonel Blimp, Peter Butterworth & Jimmy Krankie will live long in the memory. pic.twitter.com/9MNJCL7POm
— Stewart Wood (@StewartWood) June 16, 2021
Jeremy Hunt, co-presidente da comissão parlamentar de inquérito, já reagiu às revelações de Cummings, mostrando-se cético quanto à possibilidade de os documentos divulgados provarem que Hancock mentiu.
"Mostram a frustração total do PM, mas não provam que alguém 'mentiu'", escreveu no Twitter.
Downing Street recusou-se a comentar as acusações de Dominic Cummings, não negando, contudo, a veracidade das imagens e das afirmações.
"Não pretendo entrar em detalhes sobre o que foi publicado", disse o porta-voz de Boris Johnson. Questionado sobre se as imagens das mensagens do PM eram verdadeiras, disse: "O nosso foco não é examinar estas imagens, mas cumprir as prioridades com a população".
"Ao contrário de outros PM, este tem um plano claro para sair no máximo alguns anos após a próxima eleição, ele quer ganhar dinheiro e divertir-se", revelou, confessando que não acredita que a a investigação da comissão de inquérito vá conseguir obter respostas.