May perde voto crucial sobre o Brexit após revolta conservadora

por Graça Andrade Ramos - RTP
A primeira-ministra conservadora Theresa May não conseguiu impedir que o Parlamento de Westminster reivindicasse para si a última palavra sobre os acordos com a UE para o Brexit. Simon Dawson - Reuters

Foi por pouco. Quatro votos bastaram para Theresa May ver fugir-lhe a palavra final sobre o Brexit. Os deputados britânicos reivindicaram para si esse privilégio, ao aprovar esta tarde, por 309 votos contra 305, uma emenda que lhes dá a garantia de que só a eles caberá a ratificação do acordo final com Bruxelas, tornando-o lei.

Inicialmente, a proposta de lei da Saída da UE previa que o Governo poderia aplicar o acordo sem consultar o Parlamento, um dos pontos desde logo mais controverso e contestado, incluindo pelo próprio partido de May.

A iniciativa da emenda partiu precisamente de um deputado do partido conservador, o antigo procurador-geral Dominic Grieve. A vitória da emenda prova que o partido o apoia e que a primeira-ministra está cada vez mais isolada a nível interno.

O Governo recorreu a todos os argumentos para convencer os deputados de que a emenda para garantir o direito de voto do Parlamento não seria necessária.

Afirmou que pretendia apresentar ao Parlamento, muito antes da conclusão do Brexit, tanto o acordo sobre para a saída como os termos da relação com a UE no futuro.

Afirmou ainda que a emenda iria por em causa um Brexit suave, quando já tinha na mão o trunfo da aprovação esta tarde pelos eurodeputados da passagem à segunda fase das negociações.

O debate arrastou-se durante horas, com o ministro para o Brexit, David Davis, a alternar com Theresa May na defesa do "não" à emenda. No final, as suas garantias não convenceram os rebeldes e nem com concessões de último minuto conseguiu evitar a aprovação.

"Estamos dececionados com o voto favorável do Parlamento a esta emenda", reagiu em comunicado um porta-voz do ministério do Brexit.
Segunda fase de negociações UE-RU
A votação aconteceu durante o debate na especialidade da proposta de lei que revoga a lei de adesão do Reino Unido à Comunidade Europeia em 1973 e que transfere as normas europeias para o direito britânico.

Esta foi a primeira derrota do governo de Theresa May relacionada com esta proposta de lei.

Noutras ocasiões, a primeira-ministra cedeu para evitar confrontos, inclusivamente ao prometer que o resultado das negociações seria objeto de uma proposta de lei independente.

A derrota interrompe a dinâmica negocial adquirida esta semana por May, depois de fechar com a Comissão Europeia os dossiers das fronteiras na Irlanda e da proteção de cidadãos, europeus que habitem no Reino Unido e britânicos que vivam em países da UE.

A derrota lança também uma sombra sobre a cimeira europeia de dois dias que se inicia amanhã, quinta-feira, em Bruxelas, sobre a passagem à segunda fase das negociações, desta vez quanto a acordos comerciais.

Apesar de aprovada na generalidade em setembro, por 326 votos contra 290, a lei da Saída da UE foi objeto de cerca de 400 propostas de alteração, que têm vindo a ser analisadas.

C/Lusa

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