Médico angolano diz que recorde de mortes deve ser esclarecido para evitar pânico

por Lusa

O médico angolano Matadi Daniel questionou hoje o número recorde de 18 mortes por covid-19 anunciado na segunda-feira, admitindo que nem todas possam ser causadas pela doença e defendeu esclarecimentos das autoridades para evitar o pânico.

"Estes números suscitam interrogação porque não obedecem aos padrões epidemiológicos que temos verificado desde o início da pandemia e devem ser investigados" defendeu o especialista em Nefrologia em declarações à Lusa, apontando ainda "incongruências" nos dados apresentados, pois o número de doentes críticos (23) e graves (42) é praticamente idêntico ao do anterior boletim epidemiológico.

"Presume-se que estes mortos viriam dos doentes em estado crítico ou em estado grave, mas os números continuam a ser os mesmos. Então de onde vêm", questionou, admitindo que possam ter morrido de outras causas, uma vez que o protocolo em vigor estabelece que as pessoas que acorrem aos serviços de urgência sejam testadas para despistar a covid-19.

O médico sugeriu que "isso não significa que tenham morrido de covid-19, podem ter morrido com covid-19, mas devido a outras patologias", salientando que os óbitos devem ser esclarecidos pelas autoridades sanitárias para evitar o pânico entre a população.

Para Matadi Daniel, o "grande calcanhar de Aquiles" do sistema de saúde angolano "chama-se salvar os doentes críticos", mas, prosseguiu, "há muitos outros problemas de saúde pública".

"Não é a covid-19 que está a matar mais, e sim a malária, a leptospirose, as doenças diarreicas, a malnutrição", realçou.

Os médicos angolanos têm alertado nas últimas semanas para o agravamento da situação sanitária em Luanda, em consequência do lixo acumulado e das chuvas, que se reflete já nos hospitais primários e terciários, com retratos de enchentes nas urgências hospitalares a serem partilhadas pelas redes sociais.

Na segunda-feira, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda, anunciou que Angola registou um número recorde de 18 mortes em 24 horas devido à covid-19, bem como 154 novas infeções

Com a atualização dos dados, Angola passou a ter um total de 30.791 casos, 677 óbitos, 25.995 recuperados e 4.119 ativos, dos quais 23 em estado crítico, 42 graves, 165 moderados e 54 ligeiros.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.391.849 mortos no mundo, resultantes de mais de 163,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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