Médicos Sem Fronteiras alertam para impacto das inundações no Sudão do Sul

por Lusa
Reuters

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) manifestaram-se esta quarta-feira "profundamente preocupados" com o impacto das inundações no Sudão do Sul, responsáveis pela deslocação de milhares de pessoas e pelo agravamento da situação humanitária, afetando cerca de 500 mil pessoas.

Num comunicado, a organização não-governamental (ONG) instou as organizações humanitárias presentes na região a aumentarem os seus esforços por forma a prevenirem novas catástrofes.

Os rios na área administrativa de Grande Pibor transbordaram as margens e as inundações estão a expulsar as comunidades na região do Alto Nilo a uma "velocidade alarmante", pelo segundo ano consecutivo, de acordo com os MSF.

Desde julho, as cheias deslocaram centenas de milhares de pessoas e deixaram muitas mais sem acesso a alimentos e água potável, expondo-as à malária, às doenças transmitidas pela água, mordeduras de cobras e insegurança alimentar, sublinha a organização.

Na cidade de Pibor, onde os MSF se encontram a prestar cuidados médicos, a situação humanitária "está a tornar-se desastrosa", acrescentou a ONG.

A organização, que perdeu o hospital que tinha instalado na cidade devido às cheias em 2019, sublinhou ter enfrentado um novo desafio com o recomeço das hostilidades no primeiro semestre deste ano, que causaram "deslocações em grande escala, e a perda de vidas e de recursos".

Após a situação de segurança ter estabilizado em agosto deste ano, os MSF relançaram uma intervenção de emergência para responder a deslocações em massa devido aos conflitos armados, abrindo uma clínica no único local da cidade que não esteve debaixo de água no ano passado.

"Foram 12 meses difíceis para esta comunidade", diz Josh Rosenstein, chefe-adjunto da missão da ONG na região, citado no comunicado.

"Os MSF responderam várias vezes a várias emergências, e, mais uma vez, a nossa resposta de emergência a deslocações relacionadas com o conflito está a transformar-se numa resposta a inundações. O nosso foco está agora na malária, no sarampo e nas inundações", acrescenta.

Com as últimas chuvas, o rio Pibor voltou a extravasar e a água tomou conta de várias zonas da cidade de Pibor, deixando-as inacessíveis. Muitos bairros estão inacessíveis por marcha a pé e o sistema de ferry existente é demasiado caro para grande parte da população.

Uma equipa móvel dos MSF, composta por um médico, uma enfermeira e um responsável em educação sanitária, tem prestado cuidados médicos em zonas de difícil acesso.

"Não posso acreditar no que aconteceu em Pibor - tanta destruição de infraestruturas e recursos", diz no mesmo texto Simon Peter Olweny, coordenador para a área da água e saneamento dos MSF em Pibor.

A ONG está agora preocupada com o agravamento da situação. "As emergências locais recorrentes, os impactos da pandemia global de covid-19 sobre a capacidade de assistência de emergência, e a crescente insegurança alimentar na região são hoje e num futuro próximo motivo de preocupação", sublinha o comunicado.

"A emergência de hoje é apenas mais uma situação que está a ter um efeito agravado na comunidade local", aponta Rosenstein. "O pior das inundações está ainda por acontecer, e a comunidade já está a sentir as tensões da insegurança alimentar. A falta de acesso aos cuidados de saúde só irá piorar nas próximas semanas e meses, e as condições irão tornar-se mais precárias para as pessoas", acrescenta.

Num país com uma das mais elevadas taxas de doença e morte infantil, a MSF insta no comunicado as organizações humanitárias a mobilizarem recursos e a aumentarem a capacidade de resposta na região administrativa de Grande Pibor, incluindo alimentos, abrigos, água e serviços médicos, numa tentativa de evitar a repetição do desastre sofrido pela população local em outubro do ano passado.

 

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