Médio Oriente. Washington retalia contra Teerão mas sem estratégia clara

por RTP
Thaier Al-Sudani, Reuters

Os ataques levados a cabo pelas forças norte-americanas contra posições das milícias xiitas no Iraque e na Síria vieram este fim-de-semana baralhar as contas na região, depois de a chefias israelitas se terem queixado de estarem a lutar sozinhos contra os grupos patrocinados por Teerão. A questão agora colocada pelos aliados dos Estados Unidos tem a ver com a linha vermelha traçada por Washington na região: a existência de vítimas norte-americanas? Ou o apelo do seu aliado mais fiel no Médio Oriente?

Durante o fim-de-semana, os Estados Unidos responderam ao ataque que dias antes vitimou em Kirkuk um civil norte-americano, um empreiteiro ao serviço do Departamento de Defesa, e que Washington apontou à Kataib Hezbollah, milícia pró-iraniana.

O secretário de Estado Mike Pompeo sublinharia numa conferência de imprensa que Washington não iria permitir ao Irão acções que pusessem em risco a vida dos seus cidadãos. Foi nesta lógica que no domingo os Estados Unidos levaram a cabo vários bombardeamentos contra a milícia pró-iraniana, que acreditam ser responsável pelo disparo do rocket que custou a vida ao empreiteiro norte-americano.

Nos ataques foram visadas bases do grupo na Síria e no Iraque, com um balanço de 25 mortos e meia centena de feridos. As autoridades de Teerão viram nesta série de ataques “um claro exemplo de terrorismo”.

Parece estarmos aqui em presença de uma alteração de rota na estratégia dos Estados Unidos para o Médio Oriente depois de a diplomacia norte-americana ter passado meses a tratar problemas pontuais e crises maiores, como a dos seus navios no Golfo Pérsico – que teve réplicas em episódios pontuais em águas europeias com navios iranianos –, com mão de veludo, dando a ideia de lassidão da Administração Trump em relação aos assuntos na região.

Poucos dias antes da operação desencadeada contra as bases da Kataib Hezbollah, o tenente-general Aviv Kochavi, chefe máximo das forças armadas israelitas, tinha deixado queixas públicas do que parecia ser o abandono a que Israel estava a ser votado pelos seus aliados, ficando isolado na estratégia de contenção na região.

Fica a questão se Washington respondeu ao apelo de Kochavi ou se antes tem para si uma política que não admite a ameaça ou perda de vidas norte-americanas e traça aí a sua linha vermelha para a intervenção militar directa na região.
Teerão lança cartada da luta contra o Estado Islâmico

Entretanto, Teerão procura – numa jogada de propaganda – capitalizar a partir do esquema intrincado de alianças tribais e transnacionais que não permitem uma leitura absolutamente clara ou evidente dos conflitos múltiplos opondo forças ditas legítimas contra as bolsas de resistência do Estado Islâmico.

Os dirigentes iranianos acusam os Estados Unidos de se colocarem do lado errado da barricada, servindo os interesses do Estado Islâmico sempre que atacam as forças que participam no cerco aos extremistas islâmicos.

Já esta tarde, em mais um cenário em que a lógica tradicional parece perder-se nas exigências do que são as necessidades imediatas, Moqtada al-Sadr, o líder máximo dos xiitas no Iraque, manifestou abertura para colaborar com grupos xiitas rivais, apoiados pelo Irão, para colocar um fim à presença militar norte-americana no país.

Num primeiro momento disposto a deitar mão dos processos político e jurídico, Moqtada Al-Sadr, líder do Exército do Medhi, milícia criada em 2003 aquando da segunda guerra do Iraque, não descarta outro tipo de acções contra o contingente militar ocidental.
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