Merkel pressiona 28 a solução conjunta para a crise migratória
| Mundo
A crise migratória pode não ser menos do que a própria sobrevivência da União Europeia nos moldes que hoje formam o bloco europeu. O recado aos 28 foi deixado esta manhã pela chanceler alemã, Angela Merkel, como mote para a cimeira que arranca esta quinta-feira em Bruxelas. Pressionada em casa pelo seu próprio ministro do Interior, Merkel procura assim forçar uma solução de consenso para a crise migratória que se sobreponha às medidas unilaterais tomadas pelos Estados-membros, que nas últimas semanas têm feito do jogo do empurra uma solução para os desafios colocados à Europa com barcos apinhados de migrantes.
A chanceler Angela Merkel dirigiu-se esta manhã ao parlamento com a ideia clara de que na solução para os dramas dos refugiados pode estar o oxigénio para a sobrevivência do próprio projecto europeu: “A Europa enfrenta muitos desafios, mas este que está relacionado com a questão migratória poderá decidir o destino da União Europeia”.
A situação que se vive actualmente nas portas da Europa é diferente do ambiente de há quatro anos, com os números de ilegais que procuravam chegar a solo europeu a cair 96% desde Outubro de 2015. Estão ainda frescas na memória as imagens de centros de detenção apilhados de imigrantes que buscavam a rota do Mediterrâneo, passando pela Grécia e Balcãs, em busca dos países ricos como a Alemanha, Inglaterra ou Dinamarca, onde projectavam uma promessa de vida.
Angela Merkel deverá, portanto, constituir-se como o pivot de uma cimeira que vai girar em torno da pressão migratória que ameaça despedaçar a estrutura política da Europa dos 28. A chanceler apela, nesse sentido, a uma “coligação de vontades” que permita concluir acordos contemplando a vinculação – e regresso – dos migrantes ao primeiro país onde foram registados.
“Não é certamente uma solução perfeita, mas é um começo” para controlar a movimentação dos requerentes de asilo na União Europeia, que não têm o direito de escolher o país de acolhimento.
A partir do Bundestag, a líder alemã colocou também em cima da mesa o regresso a um cenário de negociação com os países da outra margem do Mediterrâneo, à semelhança do que foi feito há uns anos com a Turquia no Velho Continente, como plano de trabalho para conter as massas de refugiados.
Angela Merkel sublinharia, perante o parlamento alemão, que é uma ideia geral das lideranças europeias a prioridade de reduzir a imigração ilegal que chega do Norte de África e países árabes.
Entretanto, chega agora a questão terminológica: que tipo de imigrante é cada imigrante. Definir a natureza de cada indivíduo que busca um destino na Europa está na base de ideia de lançar postos avançados em solo africano, onde as autoridades europeias estabelecerão a legitimidade dos avanços migratórios: aqueles que fossem classificados de imigrantes económicos (em busca de uma vida melhor) seriam repatriados, apenas sendo permitido viajar aos refugiados ou aqueles com direito a asilo.
Na Alemanha, fontes próximas do executivo de Merkel estimavam um rácio três em dez para o cenário de uma cimeira com uma solução para a crise migratória que não leve ao fecho de fronteiras em cadeia e coloque em causa o espaço Schengen: “E se Schengen falhar, é o início do fim da União Europeia”, afirmou um membro do governo à BBC, com o pano de fundo das declarações dominado pela ideia real da proliferação de governos nacionalistas e de extrema-direita na Europa.