México processa fabricantes de armas dos Estados Unidos

por RTP
O governo mexicano considera que as armas ilegais dos Estados Unidos estão a contribuir para um banho de sangue no país Luis Cortes/ Reuters

O governo mexicano vai colocar no banco dos réus os principais fabricantes de armas de fogo norte-americanos. O México alega que os fabricantes de armas adotam práticas comerciais que resultam numa "torrente" de armas ilegais para os cartéis de droga e em milhares de mortes. Por isso, exige uma indemnização de mais de oito mil milhões de euros.

Pela primeira vez, o Governo do México recorre a uma ação legal para travar a entrada ilegal de armas no país e pressionar os fabricantes norte-americanos. O processo deu entrada esta quarta-feira num tribunal federal de Boston e visa os fabricantes Smith & Wesson, Barrett, Colt, Glock e Ruger.

“Vamos litigar com toda a seriedade, vamos ganhar no tribunal e vamos reduzir drasticamente o tráfico ilegal de armas para o México, que não pode ficar impune em relação a quem produz, promove e incentiva”
, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros Marcelo Ebard.

O governo do México considera ainda que os fabricantes de armas atendem abertamente aos gostos e necessidades dos cartéis de droga, de quem dependem para impulsionar o negócio da venda de armas.

Marcelo Ebrard deu como exemplo a edição especial da pistola Colt de calibre 38 que tem gravada uma imagem do revolucionário Emiliano Zapata e o ano 1911. Esta arma será um símbolo de estatuto para os membros dos cartéis. Já foi utilizada em vários crimes, como o tiroteio que vitimou uma jornalista enquanto levava o filho à escola. A jornalista investigava as ligações entre o crime organizado e políticos mexicanos.

O governo do México sublinha que só em 2019 foram cometidos pelo menos 17 mil homicídios ligados a armas traficadas. Estima-se que 70 por cento das armas de fogo que chegam ilegalmente ao México sejam provenientes dos Estados Unidos.

“As empresas devem parar imediatamente as práticas negligentes, que causam danos e mortes no México.”

Os fabricantes de armas não responderam aos pedidos de comentário da imprensa norte-americana, mas a Fundação norte-americana de Desporto de Tiro rejeita a acusação de negligência.

"O governo mexicano é o responsável pelo crime desenfreado e pela corrupção dentro das suas próprias fronteiras", respondeu o vice-presidente da Fundação. Lawrence G. Keane sublinha que os cartéis usam armas levadas ilegalmente para o México ou roubadas de militares mexicanos e agentes da lei.
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