Milhares de pessoas com problemas de saúde mental vivem acorrentadas em muitos países de todo o mundo, um problema conhecido pelas autoridades, mas contra o qual não há medidas internacionais, denuncia a Human Rights Watch.
"Embora vários países estejam a prestar mais atenção à questão da saúde mental, a prática do acorrentamento continua fora do 'radar'. Não há dados ou esforços internacionais ou regionais para erradicar o acorrentamento", critica a Human Rights Watch (HRW).
Por isso, adianta a organização, a HRW está a preparar, em conjunto com especialistas de saúde mental com experiência nesta questão e com organizações de direitos humanos de todo o mundo, o lançamento de uma campanha global (a #BreakTheChains) por ocasião do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala a 10 de outubro.
"O objetivo é acabar com o acorrentamento de pessoas com problemas de saúde mental", explica, em comunicado.
"Acorrentar pessoas com problemas de saúde mental é uma prática brutal generalizada que é um segredo de polichinelo em muitas comunidades", afirma a investigadora de direitos das pessoas com deficiência da Human Rights Watch e autora do relatório, Kriti Sharma.
"As pessoas podem passar anos acorrentadas a uma árvore, trancadas numa gaiola ou num barracão para ovelhas, porque as famílias lutam para sobreviver e os governos não fornecem serviços de saúde mental adequados", refere, acrescentando que muitas famílias têm medo de ser estigmatizadas.
"Muitos são forçados a comer, dormir, urinar e defecar numa área minúscula. Em instituições públicas ou privadas ou em centros de cura tradicionais ou religiosos, são frequentemente forçados a jejuar, tomar medicamentos ou misturas à base de ervas e enfrentam violência física e sexual", alerta o relatório.
A HRW aponta casos no Afeganistão, Burkina Faso, Camboja, China, Gana, Indonésia, Quénia, Libéria, México, Moçambique, Nigéria, Serra Leoa, Palestina, no autoproclamado Estado independente da Somalilândia, no Sudão do Sul e no Iémen.
Entre as 350 entrevistas feitas em 110 países para a realização do relatório, os investigadores encontraram exemplos de pessoas com deficiência mental e acorrentadas por isso em todas as faixas etárias, etnias, religiões, estratos socioeconómicos e áreas urbanas e rurais.