Ministra guineense do Governo de Aristides Gomes impedida de viajar para Portugal

por Lusa

A ministra da Justiça do Governo guineense de Aristides Gomes, Ruth Monteiro, disse hoje à Lusa que foi impedida por duas vezes de viajar para Portugal pelas autoridades no poder na Guiné-Bissau.

Segundo Ruth Monteiro, o seu nome constará de "uma lista de pessoas que não pode sair do país", porque não teria entregado as viaturas de Estado.

"Eu entreguei o carro ao seu legítimo proprietário que era o PNUD [Programa da ONU para o Desenvolvimento]", afirmou a ministra, salientando que uma outra viatura está no Ministério da Justiça e que há fotografias a comprovar que o carro lá está.

Ruth Monteiro disse também à Lusa que depois da história do carro, as autoridades "inventaram" que assinou passaportes "sem poder para o fazer".

A ministra da Justiça acumulou a pasta do Ministério dos Negócios Estrangeiros, após Susy Barbosa, que é agora chefe da diplomacia do Governo de Nuno Nabian, ter apresentado a demissão.

"Estão a encontrar fundamentos para me impedir de sair e acredito que a minha vida e integridade correm riscos. Há perigo de vida real", salientou Ruth Monteiro, acrescentando que não é a única que está a ser ameaçada.

A Guiné-Bissau vive mais um período de crise política, depois de o general Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições pela Comissão Nacional de Eleições, se ter autoproclamado Presidente do país, enquanto decorre no Supremo Tribunal de Justiça um recurso de contencioso eleitoral apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.

Umaro Sissoco Embaló tomou posse numa cerimónia dirigida pelo vice-presidente do parlamento do país Nuno Nabian, que acabou por deixar aquelas funções, para assumir a liderança do Governo nomeado pelo autoproclamado Presidente.

O Governo liderado por Nuno Nabian ocupou os ministérios com o apoio de militares, mas Sissoco Embaló recusa que esteja em curso um golpe de Estado no país e diz que aguarda a decisão do Supremo sobre o contencioso eleitoral.

Depois de os ministérios terem sido ocupados, as forças de segurança estiveram em casa dos ministros de Aristides Gomes para recuperar as viaturas de Estado.

No âmbito do combate ao novo coronavírus, as autoridades guineenses determinaram declarar o estado de emergência, bem como encerrar as fronteiras aéreas, terrestres e marítimas na Guiné-Bissau. Medidas que foram acompanhadas de uma série de restrições à semelhança do que está a acontecer em vários países do mundo.

Desde o encerramento das fronteiras, foram permitidos aterrar três voos comerciais no aeroporto de Bissau para fazer regressar a Portugal cidadãos portugueses e de outras nacionalidades europeias, bem como pessoas com cartão de residente em países da União Europeia.

"Este vírus ajudou a isolar a Guiné-Bissau do mundo e a implementar o poder" do Governo liderado por Nuno Nabian, afirmou Ruth Monteiro.

Segundo Ruth Monteiro, que é cidadã luso-guineense, as autoridades terão dado garantias à embaixada de Portugal de que poderia viajar, mas tal não aconteceu, lamentando a falta de apoio.

Várias fontes diplomáticas contactadas pela Lusa em Bissau afirmaram que se está à procura de uma solução.

Na sequência da tomada de posse de Umaro Sissoco Emabaló e do seu Governo, os principais parceiros internacionais da Guiné-Bissau apelaram a uma resolução da crise com base na lei e na Constituição do país, sublinhando a importância de ser conhecida uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre o recurso de contencioso eleitoral.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 870 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 44 mil.

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