MNE britânico diz que envenenamento de ex-espião reporta diretamente ao Kremlin

por RTP
Reuters

O responsável da diplomacia britânica, Boris Johnson, afirmou esta quarta-feira que a “cadeia de comando” no caso do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal, conduz diretamente ao Kremlin e que o ataque foi ordenado para ajudar a reeleição de Vladimir Putin. Johnson foi mais longe e acabou por comparar Putine a Hitler.

“Como vimos no assassínio de Alexander Litvinenko [um ex-agente secreto russo envenenado com polonium-210 e que morreu em Londres em 2006], a cadeia de comando destes assassínios e de vários assassínios conduz inevitavelmente ao Kremlin”, afirmou o ministro britânico, que compareceu hoje diante da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Câmara de Comuns.

A audição de Boris Johnson surge no âmbito do caso do envenenamento com um agente neurotóxico do ex-espião duplo de origem russa Serguei Skripal, de 66 anos, e a sua filha Yulia, de 33 anos. Os dois foram encontrados inconscientes no passado dia 4 de março, num banco num centro comercial em Salisbury, no sul de Inglaterra.

“O caminho, a cadeia de comando, parece ir até ao Estado russo e até aos que estão no poder”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, relembrando que no ataque foi utilizado um agente neurotóxico identificado como Novichok, cujo fabrico remonta à altura da União Soviética.

Para o chefe da diplomacia britânica, o caso Skripal pretendeu enviar uma mensagem a possíveis desertores russos, mas também ajudar na reeleição de Putin nas eleições presidenciais de domingo passado.

“Em primeiro lugar, acho que foi um sinal que o Presidente Putin ou o Estado russo quiseram enviar a possíveis desertores das suas próprias agências, que é isto que acontece se decidirem apoiar um país com valores diferentes, como é o nosso”, referiu.

E acrescentou que o caso também está relacionado com as recentes eleições russas, nas quais Vladimir Putin foi reeleito Presidente da Rússia com 76,67% dos votos.

“Como muitas figuras antidemocráticas quando enfrentam uma eleição ou um momento político crítico, é tentador colocar na imaginação da opinião pública a ideia de um inimigo”, prosseguiu.

“Penso que a razão pela qual assumiram o Reino Unido como alvo é muito simples, porque é um país que tem um sentido muito apurado de valores, que acredita na liberdade, na democracia e no Estado de Direito e que denunciou repetidamente os abusos russos desses valores”, disse ainda o representante na comissão parlamentar.

O caso está a provocar um clima de forte tensão entre a Rússia e o Reino Unido. Londres anunciou a suspensão de contactos bilaterais de alto nível com Moscovo e a expulsão de 23 diplomatas russos do Reino Unido.

Em resposta, Moscovo também anunciou a expulsão de 23 diplomatas britânicos e o fim das atividades do British Council na Rússia.
Johnson compara Rússia com Alemanha Nazi
A fricção entre Reino Unido e Rússia já transpõe as fronteiras do caso do envenenamento do ex-espião. O chefe da diplomacia britânica disse que o presidente russo irá tentar usar o Campeonato do Mundo de Futebol para apoiar a imagem russa, da mesma forma que Adolf Hitler usou os Jogos Olímpicos de 1936 na Alemanha Nazi. Boris Johnson mostrou o seu apoio a uma declaração inicial do deputado Ian Austin neste sentido.

“Penso que a comparação está correta”, disse Boris Johnson.

“Tais comparações são inadmissíveis e indignas de um chefe da diplomacia de Estado europeu”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Maria Zakharova no Facebook, argumentando que Boris Johnson está “envenenado de ódio e raiva”. Trump defende necessidade de ação
O Presidente norte-americano conversou com Emmanuel Macron, o Presidente francês, sobre a possibilidade de uma ação comum entre EUA e Europa contra a Rússia, no caso do envenenamento do ex-espião.

“Os Presidentes reiteraram a solidariedade com o Reino Unido quanto ao uso russo de armas químicas contra cidadãos em solo britânico e concordaram na necessidade de enveredar por uma ação que responsabilize a Rússia, disse a Casa Branca.
Kremlin. Gás neurotóxico militar teria feito "múltiplas vítimas"
Um alto responsável da diplomacia russa afirmou hoje que se o ex-espião russo Serguei Skripal tivesse sido atingido por um agente neurotóxico militar, como sustentam as autoridades do Reino Unido, o ataque "teria causado múltiplas vítimas".

"Qualquer substância tóxica militar teria feito múltiplas vítimas no local do envenenamento. Mas em Salisbury não foi esse o caso", declarou um alto responsável da diplomacia russa, Vladimir Ermakov, no decorrer de uma reunião com diplomatas estrangeiros organizada por Moscovo para explicar a sua posição no caso.

Na reunião com os diplomatas, Vladimir Ermakov considerou ainda que o envenenamento de Skripal pode ter sido uma de duas situações: ou um ataque terrorista que as autoridades britânicas não conseguiram evitar ou uma "encenação" montada por Londres.

"Ou as autoridades britânicas não são capazes de garantir proteção contra este tipo de, digamos assim, ataque terrorista, ou eles participaram direta ou indiretamente - não acuso ninguém do que quer que seja - na encenação de um ataque contra um cidadão russo", declarou Ermakov.

Número dois do departamento de não-proliferação do MNE russo, Ermakov reiterou que a Rússia "nada tem a ver (com o envenenamento)" uma vez que, insistiu, o ato "não beneficia em nada [a Rússia]".

Por outro lado, Ermakov disse que o Reino Unido está a "esconder factos", pelo que o governo russo receia que provas chave possam "desaparecer".

A Rússia já tinha alegado anteriormente que não tem motivos para matar Skripal, que foi condenado por espiar a favor do Reino Unido, mas foi libertado em 2010 numa troca de espiões. Moscovo também insiste que concluiu a destruição dos seus arsenais de armas químicas no ano passado, sob supervisão internacional.
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