Moçambique aponta escolas bilingues como prova da aposta na diversidade linguística

por Lusa

Nações Unidas, Nova Iorque, 22 fev (Lusa) -- O representante permanente de Moçambique na ONU defendeu quinta-feira, em Nova Iorque, que os cerca de 520 mil alunos que estudam nas 480 escolas bilingues moçambicanas demonstram a aposta na diversidade cultural e linguística feita pelo país.

António Gumende falava numa conferência realizada na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), a propósito do Dia Internacional da Língua Materna, tendo afirmado que Moçambique é "um país multilinguístico por definição", face às 42 "variações linguísticas" usadas por todo o território nacional, além do português, que é considerada língua materna por apenas 10,7% da população moçambicana.

O representante permanente de Moçambique junto da ONU sublinhou que o país está a viver uma intensificação do reconhecimento "das línguas moçambicanas", sendo que algumas destas já são introduzidas no percurso escolar e no currículo universitário, nomeadamente com a existência de escolas bilingues.

A posição do governo moçambicano é que o estudo de línguas indígenas põe em prática o direito das crianças de aprender a ler e escrever na língua materna, explicou o diplomata.

Acrescentou que a "política linguística nacional pretende aproveitar ao máximo todos os recursos linguísticos" de Moçambique, para criar um impacto positivo em vários domínios, o que "está em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável".

O diplomata disse ainda que se pode testemunhar o "mosaico linguístico da sociedade moçambicana" quando diversos meios de comunicação escritos, radiofónicos e televisivos comunicam com as suas audiências em línguas diferentes do português.

A língua tem um papel importante em termos de "desenvolvimento sustentável, reconciliação e pacificação global", disse o representante permanente, considerando que as línguas faladas pelos moçambicanos são a "identidade comunicativa e instrumentos artísticos pelos quais os cidadãos desenvolvem as suas diversas atividades em diversas partes do país".

António Gumende relembrou que o português foi adotado como língua oficial de Moçambique no processo de independência em 1975 para "preservar a dignidade dos moçambicanos" e porque a língua portuguesa, falado por 266 milhões de pessoas em todo o mundo, facilita o contacto com o mundo exterior e o acesso à ciência, tecnologia e a troca de informações e conhecimentos.

O representante leu artigos da Constituição de 1990 e de 2004, sobre as línguas, para reiterar o empenho de Moçambique na promoção da diversidade linguística e cultural através das instituições estatais.

Moçambique partilha as preocupações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) quanto às línguas em risco de extinção, com António Gumende a defender que "quando uma língua desaparece, desaparece também uma parte da humanidade e da herança cultural".

A conferência decorreu na noite de quinta-feira, organizada pela missão diplomática do Bangladesh junto da ONU para assinalar o Dia Internacional da Língua Materna e teve apoio das missões representação diplomática da Guatemala, Moçambique, Nigéria e Papua Nova Guiné.

O painel de oradores contou também com a subsecretária das Nações Unidas para as Comunicações Globais, Alison Smale e a diretora da Unesco em Nova Iorque, Marie Paule Roudil.

De acordo com a Unesco, cerca de 40% da população mundial não tem acesso à educação numa língua do seu conhecimento, defendendo por isso mais sensibilização para os povos que comunicam em línguas que não se reconhecidas como a língua oficial do país onde estão.

O presente ano de 2019 foi escolhido como Ano Internacional das Línguas Indígenas e baseia-se na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

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