Moçambique. Governo nega que pessoas que aparecem em vídeo de violência sejam das Forças Armadas

por Lusa

O ministro da Defesa moçambicano negou hoje que os alegados militares que aparecem a executar a tiro uma mulher sejam das Forças Armadas de Moçambique e refutou acusações de abusos no combate aos grupos armados no norte do país.

Os supostos militares que aparecem em imagens de vídeo que mostram cenas de violação de direitos humanos "não são [das Forças Armadas de Defesa de Moçambique]", enfatizou Jaime Neto, quando questionado hoje pelos jornalistas sobre alegações de atrocidades cometidas por membros das Forças Armadas na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

Jaime Neto falava à margem do lançamento da semana comemorativa do dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), que se assinala a 25 de setembro.

"Estou a dizer que não são [as FADM]", repisou Neto, perante a insistência dos jornalistas.

O ministro da Defesa Nacional classificou como "montagens" as imagens de vídeo que mostram militares a executar uma mulher nua e descalça numa estrada asfaltada, avançando que os autores das alegadas montagens serão expostos.

"Alguns moçambicanos tiram ou fazem essas imagens ou montagens e entregam lá fora e nós sabemos quem são, vamos expô-los um dia", destacou aquele governante.

As autoridades moçambicanas, prosseguiu, estão a investigar a origem das imagens e vão encontrar "a fonte".

Na segunda-feira, começaram a circular imagens de vídeo de uma mulher a ser executada por supostos membros das Forças Armadas, sendo apresentado como um retrato da situação de violação de direitos humanos no conflito de Cabo Delgado, norte de Moçambique, entre rebeldes e forças moçambicanas.

São cerca de dois minutos de imagens em contínuo, captadas por um dos membros do grupo de agressores fardados e armados e em que se ouvem palavras em português.

À beira de uma estrada asfaltada, o grupo começa por espancar violentamente uma mulher que caminha sozinha, nua e depois acaba por abatê-la com várias rajadas de metralhadora, ouvindo-se no final "já mataram a Al-Shebab", nome dado na região aos insurgentes que atacam Cabo Delgado desde 2017.

Na sequência das imagens, o Ministério da Defesa de Moçambique emitiu na terça-feira um comunicado de imprensa em que considera que deve ser investigado o abate à queima-roupa da mulher.

"Factos desta natureza deverão sempre ser denunciados por todas as forças vivas da sociedade, devendo ser investigados para apurar a sua autenticidade e veracidade, com vista à devida responsabilização", refere-se na nota do ministério.

O vídeo começou a circular dias depois de a Amnistia Internacional ter pedido às autoridades moçambicanas que investiguem alegados abusos por parte das suas forças em Cabo Delgado, com base noutros vídeos que mostram torturas e vítimas de execuções sumárias.

Os confrontos em Cabo Delgado, desencadeados por forças classificadas como terroristas, duram há três anos e estão a provocar uma crise humanitária com mais de mil mortos e cerca de 365.000 deslocados internos.

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