Kofi Annan, antigo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e prémio Nobel da Paz de 2001, morreu aos 80 anos.
Cumpriu dois mandatos, de 1997 a 2006 e, mais tarde, foi enviado especial à Síria, onde liderou os trabalhos para se encontrar uma solução pacífica para o conflito.
Annan ganhou o Prémio Nobel da Paz, em 2001, pelos esforços humanitários que desenvolveu.
A mesma publicação assinala que o diplomata esteve acompanhado pela sua mulher e pelos três filhos nos últimos dias de vida.It is with immense sadness that the Annan family and the Kofi Annan Foundation announce that Kofi Annan, former Secretary General of the United Nations and Nobel Peace Laureate, passed away peacefully on Saturday 18th August after a short illness... pic.twitter.com/42nGOxmcPZ
— Kofi Annan (@KofiAnnan) 18 August 2018
“Kofi Annan era um estadista global e um internacionalista profundamente empenhado que lutou ao longo da sua vida por um mundo mais justo e mais pacífico. Durante a sua distinta carreira e liderança das Nações Unidas foi um defensor ardente da paz, desenvolvimento sustentável, dos direitos humanos e da justiça.”
Kofi Annan, que fez a sua carreira profissional nas Nações Unidas, cumpriu dois mandatos como secretário-geral da ONU, entre 1 de janeiro de 1997 a 31 de dezembro de 2006.
Durante o seu mandato, Annan - que foi galardoado juntamente com a ONU com o prémio Nobel da Paz em 2001 - presidiu alguns dos piores fracassos e escândalos das Nações Unidas, sendo um dos períodos mais turbulentos desde a fundação da organização em 1945.
Liderou a organização durante o conturbado período da Guerra no Iraque (2003-2011), antes de ver o seu registo manchado por acusações de corrupção no caso "petróleo por comida" para o Iraque, tendo sido posteriormente ilibado.
Kofi Annan assumiu o cargo na ONU seis anos após o colapso da União Soviética e no seu mandato o mundo uniu-se contra o terrorismo após os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos, mas depois dividiu-se profundamente com a guerra liderada pelos norte-americanos no Iraque.
O relacionamento com os Estados Unidos testou-o como líder diplomático mundial.
Kofi Atta Annan nasceu a 8 de abril de 1938, em uma família de elite em Kumasi, Gana, filho de um governador provincial e neto de dois chefes tribais.
O ex-secretário-geral da ONU compartilhou seu nome do meio Atta - "gêmeo" na língua Akan de Gana - com uma irmã gêmea, Efua.
Tornou-se fluente em inglês, francês e em várias línguas africanas, frequentando um colégio interno de elite e a Universidade de Ciência e Tecnologia em Kumasi.
Koffi Annan terminou a sua graduação em Economia no Macalester College em St. Paul, Minnesota, em 1961.
Em 1965, casou-se com Titi Alakija, de uma rica família nigeriana. Tiveram um filho, Kojo, e uma filha, Ama, mas separaram-se no final dos anos de 1970. Em 1984, Annan casou-se com Nane Lagergren, uma advogada sueca que lhe daria uma filha, Nina.
Após terminar a graduação nos Estados Unidos, partiu para Genebra, na Suíça, onde começou os seus estudos de pós-graduação em Relações Internacionais e lançou a sua carreira na ONU.
Kofi Annan foi responsável pelos recursos humanos das Nações Unidas, depois dos assuntos orçamentais e antes de, a partir de 1993, ser responsável pelas Operações para a Manutenção da Paz.
Quando chefiou o departamento de Manutenção da Paz, a ONU viveu dois dos episódios mais sombrios de sua história: o genocídio do Ruanda e a guerra na Bósnia.
Os capacetes azuis retiraram-se do Ruanda em 1994, sob o caos e a violência étnica. E, um ano depois, a ONU não conseguiu impedir as forças sérvias de massacrar vários milhares de muçulmanos em Srebrenica, na Bósnia.
Esses fracassos, escreveu Kofi Annan em sua autobiografia, "confrontaram-me com o que se tornaria o meu mais importante desafio como secretário-geral: fazer as pessoas entenderem a legitimidade e a necessidade de intervir em casos de flagrante violação dos direitos humanos ".
Quando Annan saiu das Nações Unidas, deixou para trás uma organização global mais preocupada com a manutenção da paz e na luta contra a pobreza, estabelecendo a estrutura da resposta do século XXI às atrocidades em massa e a ênfase nos direitos humanos e no desenvolvimento.
Já fora do cargo, Annan nunca saiu completamente da órbita da ONU, tendo retornado em cargos especiais, inclusive como enviado especial da Liga Árabe-ONU para a Síria em 2012.
O antigo secretário-geral da ONU permaneceu um poderoso defensor de causas globais através de sua fundação.
"De muitas maneiras, Kofi Annan encarnou as Nações Unidas. Ele dirigiu a organização, no novo milénio, com dignidade e uma determinação inigualável", afirma António Guterres em comunicado.
Kofi Annan was a guiding force for good. I join the world in mourning his loss. In these turbulent and trying times, his legacy as a global champion for peace will remain a true inspiration for us all. https://t.co/psJ9viPIeu pic.twitter.com/SKfBk5zaY2
— António Guterres (@antonioguterres) 18 August 2018
"Ele cumpriu com o seu compromisso em que disse que queria ver resolvido o conflito em Timor-Leste. Dinamizou a questão nomeando um representante especial, dinamizou encontros trilaterais, com a ONU, a Indonésia e Portugal", recordou Ramos-Horta.
"O nome dele ficará sempre recordado neste país. E espero que o nosso Estado se faça representar no seu funeral ao mais alto nível. Já alertei o Governo para ver como honrar Kofi Annan", disse Horta que enquanto Presidente atribui a Annan o galardão timorense mais alto, a Coroa da Ordem de Timor-Leste.
Recorde-se que coube a Kofi Annan, a poucos minutos das 00h00 de 20 de maio de 2002, entregar formalmente Timor-Leste aos timorenses numa cerimónia que marcou a restauração da independência do país.
Annan tinha supervisionou a assinatura do histórico acordo de 5 de maio de 1999 - entre Portugal e a Indonésia - que permitiu o referendo em que os timorenses escolheram ser independentes.
Horta, que conheceu Annan no início da década de 1980, recorda a sua "seriedade e serenidade" e que logo no seu primeiro discurso disse que queria ver a questão de Timor-Leste resolvida no seu mandato.
O líder histórico timorense deveria ter-se encontrado com Annan no próximo mês de setembro quando participaria, enquanto comissário, na Comissão Global sobre Política da Droga, que era liderada pelo antigo secretário-geral.
A eurodeputada Ana Gomes lamentou hoje a morte do antigo secretário-geral da Organização das Nações Unidas Kofi Annan, dizendo tratar-se de um homem corajoso e honesto, com quem trabalhou no processo de independência de Timor Leste.
Kofi Annan, "um corajoso, honesto e decisivo secretário-geral da ONU! O mundo sente tremendamente a tua falta", escreveu a socialista portuguesa na rede social Twitter, sobre a morte do prémio Nobel da Paz de 2001.
"Foi uma honra para mim trabalhar consigo, nomeadamente no Iraque sob ataque dos EUA e no processo de libertação/independência de Timor Leste. Portugal curva-se perante si", diz Ana Gomes dirigindo-se ao ex-diplomata Kofi Annan.RIP #KofiAnnan, brave, decent and decisive Secretary General of the @UN! The world misses you tremendously. It was an honour for me to work with you, namely on #Iraq under US bullying and in the process of liberation/independence of #TimorLeste. #Portugal bows to you!
— Ana Gomes, MEP (@AnaGomesMEP) 18 August 2018
Entre 1999 e 2003, Ana Gomes foi responsável de missão e embaixadora em Jacarta, tendo participado no processo que levou à independência de Timor Leste e no restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a Indonésia.
O ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, manifesta “mágoa” pela morte de Kofi Annan.
“São raras as pessoas que dificilmente imaginamos que possam um dia desaparecer, mas Kofi Annan era seguramente uma delas. A sua estatura intelectual e força moral, o seu dinamismo, a solidez da sua presença e convicções sempre se sobrepuseram ao sentido da vida efémera e à mortalidade própria dos humanos”, lê-se num comunicado enviado às redações.
Jorge Sampaio, que em outubro de 2005, distinguiu o ex-secretário Geral das Nações Unidas com a Ordem da Liberdade, acrescenta que “o seu desaparecimento súbito provoca um sentimento de choque e injustiça que não são facilmente superáveis para quem teve o privilégio de privar com Kofi Annan em contextos diversos e durante vários anos”.
O Presidente da África do Sul recordou hoje Kofi Annan como um "diplomata extraordinário", que colocou África na agenda da Organização das Nações Unidas (ONU) e fez da paz mundial a sua bandeira.
"O Presidente Ramaphosa prestou homenagem ao Sr. Annan como um grande líder e diplomata extraordinário que avançou a agenda Africana nas Nações Unidas e hasteou a bandeira pela paz em todo o mundo", diz a presidência sul-africana num curto comunicado enviado à imprensa.
Ramaphosa prestou esta homenagem à saída de Windhoek, Namíbia, onde participou na 38ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), refere a mesma nota.
O chefe de Estado sul-africano considerou ainda a morte de Kofi Annan "um grande choque e perda para a comunidade global".
O primeiro-ministro português prestou homenagem ao ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, que morreu hoje aos 80 anos, ao declarar que o ganês foi um líder da causa da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos.
"Homenageio Kofi Annan, hoje falecido. Como secretário-geral das ONU, foi um líder mundial da causa da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos. Foi também uma das personalidades que mais contribuíram para a independência de Timor Leste", declarou António Costa na sua conta no Twitter.Homenageio @KofiAnnan, hoje falecido. Como secretário geral das @UN, foi um líder mundial da causa da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos. Foi também uma das personalidades que mais contribuíram para a independência de Timor Leste.
— António Costa (@antoniocostapm) 18 August 2018
O diplomata Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, foi um "firme defensor do diálogo e da cooperação entre as nações, da dignidade da pessoa humana e dos princípios basilares da Carta das Nações Unidas", afirma o Presidente da República na sua mensagem de condolências.
Na mensagem enviada ao atual secretário-geral da ONU, divulgada no portal da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa afirma que "Kofi Annan será recordado como um lutador incansável pela Paz, como reconhecido pelo Comité do Prémio Nobel, que, em 2001, o agraciou, e às Nações Unidas, com o Prémio Nobel".
O Chefe de Estado recorda que Annan, que esteve à frente da ONU de 1997 até 2006, "foi também um amigo constante de Portugal e um aliado inquebrantável na luta pela autodeterminação do povo de Timor-Leste, para cuja independência tanto contribuiu".
Annan "logrou ainda, durante o seu mandato, incluir no debate público questões como o estatuto das mulheres e reforçar o relacionamento com a sociedade civil. O seu legado perdurará assim como um exemplo e uma referência", afirma Marcelo Rebelo de Sousa.
"O Presidente da República associa-se assim a todos aqueles que nesta hora sentem a perda de um grande estadista internacional que foi igualmente um visionário, tendo transmitido, em seu nome e do povo português, as condolências à família de Kofi Annan, extensivas à Organização das Nações Unidas", segundo a mesma nota.