A Agência Internacional de Energia Atómica confirmou esta segunda-feira a morte do seu diretor-geral, Yukiya Amano, aos 72 anos. O diplomata japonês encabeçava desde 2009 esta estrutura de monitorização integrada na ONU, atualmente a braços com o recrudescimento da tensão entre os Estados Unidos e o regime iraniano.
Yukiya Amano foi nomeado em 2009 para a sucessão do egípcio Mohamed ElBaradei. Seria reconduzido em novembro de 2017.
O diplomata japonês cumpria o terceiro mandato à frente da AIEA, agência das Nações Unidas sediada em Viena. Era esperado para esta semana o anúncio da sua saída do cargo em março do próximo ano, por razões de saúde. Yukiya Amano preparara mesmo uma carta a remeter aos colaboradores, congratulando-se com “resultados concretos” alcançados sob a sua liderança.
Foi sobre a equipa de Amano que recaiu a responsabilidade pela monitorização do cumprimento das disposições do acordo nuclear celebrado em 2015 com o Irão, sob os auspícios do então Presidente democrata dos Estados Unidos, Barack Obama. Pacto rejeitado em toda a linha pelo sucessor, Donald Trump.
O vice-ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros Abbas Araghchi esteve entre as primeiras personalidades internacionais a prestar tributo a Yukiya Amano, reconhecendo-lhe “competências profissionais” e “habilidade”.
Também o Presidente russo, Vladimir Putin, disse “admirar a sabedoria e a clarividência” do diretor-geral da AIEA, assim como a “capacidade de tomar decisões esclarecidas nas circunstâncias mais difíceis”.
A partir de Washington, o conselheiro da Casa Branca para a Segurança Nacional, John Bolton, apontou o “compromisso inigualável” de Amano para com “uma energia nuclear pacífica”.
Entre os nomes dados como favoritos para a sucessão de Yukiya Amano estão os do romeno Cornel Feruta, atual coordenador do gabinete do diretor-geral, e de Rafael Grossi, representante diplomático da Argentina na agência.
Inspeções ao Irão
Perante as consequências do abandono norte-americano do acordo de 2015, as autoridades de Teerão começaram a pôr de parte, em julho, algumas das regras a que estavam vinculadas, no que diz respeito ao programa nuclear da República Islâmica.
Perante as consequências do abandono norte-americano do acordo de 2015, as autoridades de Teerão começaram a pôr de parte, em julho, algumas das regras a que estavam vinculadas, no que diz respeito ao programa nuclear da República Islâmica.
O objetivo do Irão é obter dos demais signatários do acordo (Alemanha, China, França, Grã-Bretanha e Rússia) medidas que permitam contornar a reposição de sanções económicas e financeiras por parte da Administração Trump. E há um calendário: a desvinculação iraniana alargar-se-á a cada 60 dias, até à denúncia, no limite, do acordo de Viena de 2015 e do próprio Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
Ao abrigo do protocolo adicional ao TNP assinado há quatro anos, o regime dos ayatollahs aceitou abrir o país a inspeções regulares da AIEA, num processo que Yukiya Amano chegou a considerar o mais rigoroso do mundo.
A escolha do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, que reúne 171 países, é determinada pelo Conselho de Governadores – este último composto por 35 Estados-membros.
O ministro português da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, lamentou a morte de Yukiya Amano, descrevendo-o como um “verdadeiro exemplo” de diplomacia científica.
c/ agências
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