Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Moscovo admite cessar-fogo na Síria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Dois rapazes correm numa zona bombardeada no bairro de al-Shakour, arredores de Aleppo Abdalrhman Ismail - Reuters

O Kremlin estará pronto a negociar um cessar-fogo na Síria, afirma o vice-ministro russo dos Negócios estrangeiros, Gennady Gatilov, citado por agências russas. A data proposta para o início da suspensão das hostilidades é 1 de março.

"Estamos prontos a discutir as modalidades de um cessar-fogo na Síria", afirmou Gatilov à TASS e à Interfax. "Será isto que será debatido em Munique", acrescentou.

A cidade alemã deverá receber esta quinta-feira mais uma conferência internacional das principais potências mundiais envolvidas no conflito sírio. Rússia, Estados Unidos, Arábia Saudita e Irão vão procurar soluções para relançar as conversações de paz.

A Rússia é um dos principais apoiantes do Governo sírio e tem sido acusada pelos norte-americanos de colocar entraves às negociações de paz que envolvem os principais grupos de oposição síria, os independentes e os apoiados pela Arábia Saudita, além do Governo sírio e das potências mundiais.

Estas iniciaram-se em janeiro em Genebra, sob mediação da ONU, e deverão ter uma segunda ronda a 25 de fevereiro. Gatilov admitiu que esta data possa agora ser antecipada.

A possibilidade de um cessar-fogo foi a primeira condição imposta pelo enviado da ONU à Síria, Staffan de Mistura, durante a primeira ronda de conversações.
50 mil em fuga de Aleppo
A cedência russa -  que, a confirmar-se, é igualmente uma cedência de Damasco - surge quando mais de 50 mil sírios fogem de uma operação militar de grande envergadura das forças governamentais e aliados, na província de Aleppo.

A operação iniciou-se a 1 de fevereiro e conseguiu cortar as rotas de abastecimento aos grupos armados rebeldes na região, que estão praticamente cercados. As reservas de água têm sido igualmente afetadas.

O Obervatório Sírio para os Direitos Humanos, OSDH, uma ONG baseada no Reino Unido com contactos em toda a Síria, afirmou quarta-feira que pelo menos 500 pessoas foram mortas nesta ofensiva.

Entre os mortos contam-se "89 civis, incluindo 23 crianças, 143 combatentes do Governo e 274 rebeldes e combatentes estrangeiros," afirma o OSDH.

Até janeiro o Governo controlava o lado ocidental da cidade de Aleppo, a maior da Síria, enquanto os grupos rebeldes controlavam o oriental. Na zona rural a situação revertia-se. Agora, os grupos rebeldes estão praticamente cercados.  

A população civil fugiu para a fronteira turca, invadindo Bab al-Salameh, um campo de deslocados sírios existente junto ao posto fronteiriço de Oncupinar. Um outro campo tem estado a ser erguido à pressa pelas agências de apoio humanitário, mas milhares de pessoas, incluindo crianças, permanecem ao relento ou amontoadas às dezenas em tendas previstas para acomodar sete pessoas.

Muitas pessoas estão igualmente feridas devido aos bombardeamentos incessantes das forças aéreas sírias e russa e, além de abrigos e alimentos, têm sido enviados médicos aos deslocados.

A comunidade internacional tem vindo a insistir com a Turquia para deixar entrar os novos deslocados no seu território, mas Ancara recusa escancarar a fronteira. Afirma estar a receber refugiados à razão de dez mil por dia.
Turquia aponta o dedo
Na quarta-feira, o pirmeiro ministro turco afirmou em Haia, que a crise dos refugiados não é um problema de um só país ou de países vizinhos da Síria, mas uma questão para toda a humanidade.

Ahmet Davutoglu acusou várias potências de hipocrisia, por aconselharem a Turquia a receber os refugiados enquanto "não movem um músculo para conseguir um asolução na Síria," afirmou.

"Infelizmente isto inclui o Conselho de segurança da ONU que não consegue colocar um stop aos bombardeamentos da Rússia que gera um fluxo de refugiados à Turquia", acusou Davutoglu.

A guerra na Síria dura há cinco anos. Iniciada durante a Primavera Árabe pela população maioritariamente sunita, que esperava depor o Presidente Bashar al-Assad, um xiita alauíta, acabou por envolver vários grupos armados islamitas - entre os quais o grupo Estado Islâmico, que controla cerca de metade do país - e as potências da região.

O conflito já fez mais de 250.000 mortos e milhões de deslocados e de refugiados.
pub