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Movimento LGBTQ. Andrew Cuomo está a tornar-se tóxico para os seus mais próximos

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Reuters

Nos últimos dias o governador de Nova Iorque, o democrata Andrew Cuomo, sofreu pressões para a demissão que já chegaram à cadeira mais alta da Casa Branca. Face ao relatório que terá como comprovado o comportamento impróprio de Cuomo com várias mulheres que o acusaram de assédio sexual, o próprio presidente Joe Biden pediu o seu afastamento. O governador está a tornar-se numa figura indesejável, tóxica, e aqueles que lhe eram fiéis estão já a senti-lo na pele, como é o caso de um dirigente do movimento LGBTQ.

Uma das personalidades da vida americana que estará sob maior pressão neste processo, à excepção do próprio Andrew Cuomo, é o seu irmão mais novo Chris, um dos principais jornalistas da cadeia de televisão CNN e pivot de um programa que leva o seu nome: Cuomo Prime Time.

Chris Cuomo já antes fora atacado por ter participado numa reunião com uma equipa que aconselhou o governador Cuomo a lidar com as acusadoras e todo o processo em que está envolvido.

Entretanto, as brasas em que Andrew Cuomo está sentado começam a chamuscar outras pessoas à sua volta. Uma delas é o activista Alphonse David, presidente do grupo de defesa dos direitos LGBTQ Human Rights Campaign (HRC), a maior organização do género nos Estados Unidos.

“Quando é que se demite?”, ter-lhe-á perguntado um funcionário da HRC face à sua relação com o governador Cuomo, de quem foi conselheiro entre 2015 e 2019.

De acordo com um relatório divulgado esta terça-feira pelo procurador-geral do Estado de Nova Iorque relativamente à investigação sobre Cuomo, também Alphonse David terá empenhado os seus esforços na tentativa de desacreditar as mulheres que acusam o governador. O relatório – que tem como base conversas com 179 pessoas e mais de 74 mil elementos de prova, incluindo emails, textos, fotos e gravações áudio – conclui que Andrew Cuomo assediou sexualmente várias mulheres e também que violou leis federais e estatais.

Encostado às cordas pelos membros da HRC durante uma reunião que teve lugar esta quarta-feira, David tentou passar a ideia de que nada sabia sobre as acusações: “Li o relatório palavra por palavra e isso deixou-me doente. Não há passagem nenhuma onde se diga que eu estava a par de qualquer destas alegações”.

Uma estratégia que não amaciou os funcionários da organização, que lhe chamaram a atenção para o facto de o relatório do procurador-geral o ligar às tentativas de Cuomo de desacreditar as suas acusadoras.

“Está a criar um ambiente tóxico onde os nossos parceiros não podem confiar em nós”, apontou um dos membros do HRC, atirando-lhe a questão derradeira: “Quando é que se demite?”.

De acordo com o relatório tornado público na última terça-feira, Alphonse David forneceu aos assessores de Cuomo um ficheiro confidencial que seria usado para desacreditar uma das testemunhas da acusação, Lindsey Boylan, que acusou o governador de assédio sexual, mormente um beijo não autorizado no seu escritório e um convite para jogar strip poker durante uma ligação aérea num avião do governo.

O documento afirma que David – sempre enquanto presidente da HRC – esteve ainda envolvido em discussões sobre ligar e gravar secretamente uma conversa entre uma ex-funcionária de Cuomo e outra mulher que o acusou, de nome Kaitlin (não forneceu o seu apelido). Kaitlin alega que, em 2016, o governador a agarrou durante uma angariação de fundos e a colocou numa pose de dança para os fotógrafos; dois dias depois, o staff de Cuomo entrou em contacto para lhe oferecer um emprego no gabinete do governador.

Ainda de acordo com o relatório, David terá inicialmente recusado assinar uma carta destinada a desacreditar Boylan e atacando as suas alegações como tendo uma motivação política, mas mais tarde disse a um assessor de Cuomo que assinaria a carta se tal fosse necessário. Alphonse David terá ainda, segundo o documento, concordado em contactar as mulheres que trabalharam para Cuomo no sentido de assinarem uma declaração com coisas positivas sobre o governador.

Perante estes factos que surgem no relatório da procuradoria, David foi encostado às cordas durante várias horas numa sessão em que as questões podiam ser colocadas de forma anónima. O presidente da HRC defendeu-se sempre no mesmo sentido: não sabia das acusações.

Nessas quatro horas em que se discutiu a continuidade de Alphonse David à frente da Human Rights Campaign um dos membros da organização perguntou-lhe: “Está disposto a afundar a nossa organização consigo?”. No entanto, o conselho que dirige a HRC manteve-se com o seu presidente e prolongou por mais cinco anos o seu contrato, decisão que já estaria tomada e que apanharia com os estilhaços da bomba largada pelo procurador-geral.

“Mantemos plena confiança em Alphonse David como presidente da organização” dizem num comunicado conjunto a presidente do Conselho de Administração da Fundação HRC, Jodie Patterson, e a presidente do Conselho de Administração da HRC, Morgan Cox.

Alphonse David sobrevive para já às críticas internas, mas o seu envolvimento com Andrew Cuomo estará já a chamuscar a organização, que entretanto recebeu fortes críticas face à decisão de manter o seu presidente.
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