MSF com centros médicos destruídos pedem "corredor humanitário" em Ghouta

por Lusa

Lisboa, 23 fev (Lusa) -- Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) indicaram hoje à agência Lusa que 13 dos 18 centros médicos que a organização apoia em Ghouta Oriental, na Síria, ficaram parcial ou totalmente destruídos por bombardeamentos nos últimos dias, tendo morrido três colaboradores.

"Isto aumenta a necessidade de se obterem medicamentos para que os feridos possam ser assistidos", sublinhou, desde Bruxelas, o diretor adjunto das Operações dos MSF na Síria, Said Fliki, contactado telefonicamente pela Lusa a partir de Lisboa.

O responsável dos MSF salientou que os bombardeamentos e os ataques de artilharia síria contra o enclave de Ghouta Oriental, o último bastião da oposição ao Presidente Bashar al-Assad, fizeram pelos menos 500 mortos e 2.300 feridos desde domingo, incluindo dezenas de crianças, admitindo que os números podem ser "muito superiores".

Fliki apelou "a todos os beligerantes" que permitam a abertura de um "corredor humanitário" para tratar os feridos, destacando que a situação no terreno é "extremamente alarmante".

"A situação em Ghouta é extremamente alarmante. Com a intensificação dos bombardeamentos, e desde domingo, chegamos a um número de 2.300 feridos e 500 mortos, o que é uma enormidade. A situação é mesmo muito alarmante", indicou Fliki, que se encontra em Bruxelas à procura de encontrar uma solução para os sucessivos apelos já feitos para um cessar-fogo.

"Pensamos que os números (de mortos e de feridos) estão subestimados. Há mortos e feridos noutros centros médicos que estão ainda por contabilizar e nos quais não estamos presentes. Mas é certo que os números subam", salientou o responsável dos MSF.

"Todos os nossos apelos aos beligerantes têm sido no sentido de facilitar o acesso aos centros médicos, para os abastecer de medicamentos e proceder à evacuação dos feridos graves. Isso é muito importante. Também apelamos ao respeito pelo Direito Humanitário Internacional para que deixem intactas as instalações médicas na região de Ghouta, e que deixem os médicos e o pessoal médico tratar os pacientes", disse.

Segundo Fliki, os médicos estão sem medicamentos básicos, como antibióticos, anestesias, e sem suplementos de sangue.

"Temos apenas um pequeno stock de medicamentos, mas não chega. Se a situação persistir ficaremos sem nada. Estamos a caminhar para um desastre ainda pior do que já é", alertou o responsável dos MSF, que elogiou o trabalho dos médicos e do pessoal médico no terreno, "que estão a dar o seu melhor para salvar vidas num ambiente de guerra".

Fliki escusou-se a falar das razões políticas subjacentes ao conflito.

"Há muitas partes envolvidas e não estamos aqui para falar de política. Estamos aqui a tratar das consequências dos bombardeamentos. É nisso que passamos todo o nosso tempo. A nossa mensagem é dirigida a todos os beligerantes, para que garantam total acesso às instalações médicas, para que possam ser abastecidas com medicamentos e equipamentos e que deixem ser evacuados os doentes mais graves", insistiu.

Com cerca de 400 mil habitantes, o enclave rebelde está sitiado pelas forças de Bashar al-Assad desde 2013 e enfrenta uma grave crise humanitária, marcada pela escassez de alimentos e de medicamentos.

Um médico na região diz que se trata de um massacre e a imprensa internacional comparou o ataque do regime sírio em Ghouta a uma nova Srebrenica, uma referência ao massacre que vitimou mais de oito mil bósnios muçulmanos em 1995.

Desencadeado em março de 2011 pela violenta repressão do regime de Bashar al-Assad de manifestações pacíficas, o conflito na Síria ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos `jihadistas`, e várias frentes de combate.

Num território bastante fragmentado, o conflito civil na Síria provocou, desde 2011, mais de 350 mil mortos, incluindo mais de 100 mil civis, e milhões de deslocados e refugiados.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas discute e deverá votar hoje um projeto de resolução sobre um cessar-fogo de 30 dias na Síria que permitiria a chegada da ajuda humanitária a Ghouta oriental.

Desconhece-se por enquanto se a Rússia, que tem direito de veto no Conselho e se opôs inicialmente a um cessar-fogo, apoiará este novo texto.

Os Estados Unidos e a França, entre outros membros do Conselho de Segurança, protestaram contra a posição da Rússia, o principal aliado internacional do regime de Damasco.

O objetivo da trégua é permitir o acesso a Ghouta Oriental e a retirada de doentes e feridos.

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