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Multinacionais alertam que Covid-19 pode duplicar a fome mundial

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
James Akena - Reuters

Em carta endereçada aos líderes mundiais, algumas das maiores multinacionais alimentares alertam para o risco de multiplicação do número de pessoas que sofre de fome crónica a nível mundial como consequência da Covid-19. As empresas apelam a uma abertura de fronteiras e que seja mantido o comércio livre de forma a evitar uma potencial crise alimentar.

Numa carta intitulada de “Apelo à Ação de Líderes Mundiais” publicada esta quinta-feira, algumas das maiores multinacionais alimentares explicam que o fornecimento de alimentos pode ser “massivamente interrompido” devido às medidas implementadas para controlar a propagação do novo coronavírus.

Multinacionais como a Nestlé, PepsiCo, Unilever e a Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com organizações agrícolas sublinham que “o número de pessoas que sofre de fome crónica – estimado em mais de 800 milhões antes da crise – pode aumentar drasticamente”, prevendo que pode mesmo duplicar nos próximos meses.

Por esta razão, os assinantes deste “apelo à ação” instam os líderes mundiais a adotar “medidas urgentes e coordenadas para impedir que a pandemia da Covid-19 se transforme numa crise alimentar e humanitária global”.
Comércio livre
Em primeiro lugar, as multinacionais apelam a que seja mantido o comércio livre de alimentos, mostrando-se preocupadas com as medidas protecionistas que têm sido adotadas pelos governos nacionais durante a pandemia que podem provocar escassez de alimentos.

Para além da escassez alimentar, as restrições à circulação de pessoas e a suspensão de transportes, embora sejam medidas necessárias para a saúde pública, também se estão a refletir numa escassez de mão-de-obra agrícola e no aumento dos preços dos produtos alimentares.

O risco de grandes interrupções no fornecimento de alimentos nos próximos meses está a aumentar, especialmente para os países importadores de baixo rendimento, muitos dos quais estão na África Subsaariana”.

Maximo Torero, economista Organização para a Alimentação e a Agricultura, também já havia alertado para este mesmo cenário, argumentando que “todas as medidas contra o livre comércio serão contraproducentes”.

Agora não é hora de restrições ou de colocar em prática barreiras comerciais. Agora é a hora de proteger o fluxo de alimentos em todo o mundo”, sublinhou Torero em entrevista ao jornal britânico The Guardian.

Os líderes empresariais apelam ainda aos governos que invistam na produção local alimentar, colocando os agricultores, fornecedores, distribuidores alimentares e funcionários do processamento de alimentos como parte de um “setor essencial”.
Apoiar os mais vulneráveis
Na carta, as multinacionais colocam o apoio às famílias mais vulneráveis como a segundo domínio onde devem ser tomadas iniciativas.

Tendo em conta o cenário atual, muitas famílias perderam o emprego e o risco de fome aumentar. “Não seria difícil de imaginar cenários nos quais o número de pessoas que sofre diariamente de fome, estimadas em mais de 800 milhões, duplique nos próximos meses, com um enorme risco de aumentar a desnutrição e o nanismo infantil”, lê-se na carta.

Neste âmbito, as multinacionais alimentares consideram que são necessários programas de ajuda alimentar por parte do governo, do setor privado e de instituições de caridade, para além de redes de proteção de rendimento.

Apelam ainda a uma mobilização da comunidade internacional para apoiar os países em desenvolvimento, por forma a “garantir que sejam capazes de produzir e/ou importar os alimentos de que necessitam para alimentar as suas populações”.
Investir em sistemas alimentares sustentáveis
Por fim, as grandes empresas alimentares consideram que os governos devem transformar o sistema alimentar mais sustentável e resiliente à medida que recuperam da crise provocada pela epidemia.

O sistema alimentar atual é frágil, devido ao investimento insuficiente, ao esgotamento excessivo dos recursos naturais e à má alocação de mais de 700 mil milhões de dólares em medidas de apoio anuais”, escrevem as multinacionais na carta. “Não há uma solução a curto prazo para estes desafios, mas podemos aproveitar a oportunidade de nos recuperarmos de uma maneira melhor e mais forte do que antes”, apelam.

Defendem, por isso, o desenvolvimento de redes regionais de fornecimento de alimentos e medidas de proteção social que incluem assistência médica gratuita e apoio à renda mensal. Consideram ainda que os países mais desenvolvidos devem ajudar os países mais pobres a implementar estas medidas.

“Reparar o sistema alimentar é fundamental para uma recuperação resiliente em todo o mundo, potenciando a criação de milhões de novos empregos, menos fome, maior segurança alimentar e melhor gestão dos principais recursos naturais: solo, água florestas e oceanos”, concluem as principais multinacionais alimentares na carta dirigida aos líderes mundiais.
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