Nagorno-Karabakh. Alta comissária de direitos humanos pede cessar-fogo urgente

por Lusa

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu hoje um cessar-fogo "urgente" às partes em conflito em Nagorno-Karabakh, onde persistem intensos combates entre tropas azeris e separatistas apoiados pela Arménia.

Num comunicado, Bachelet considera "muito preocupante" constatar que, nos últimos dias, as áreas civis foram tomadas como alvo de bombardeamentos com artilharia pesada na zona de conflito, tendo apelado à cessação das hostilidades "face ao impacto que está a ter na população civil".

Desde 27 de setembro que os separatistas arménios da autoproclamada república de Nagorno-Karabakh, apoiados por Erevan, e as tropas azeris se confrontam novamente naquele enclave montanhoso.

As últimas horas trouxeram uma esperança para o fim das hostilidades, depois de a Presidência francesa, liderada por Emmanuel Macron, ter garantido que as duas partes estão a encaminhar-se para uma trégua ainda hoje à noite ou a partir de sábado.

O balanço oficial apresentado hoje de manhã dá conta de mais de 400 mortes, incluindo 22 civis arménios e 31 azeris.

O balanço, porém, é ainda "muito parcial", tal como refere a agência noticiosa France Presse (AFP), podendo ser "bem mais elevado", uma vez que cada uma das partes afirma ter eliminado "milhares de soldados" inimigos.

Hoje, no comunicado, e na sequência da persistência do conflito, Bachelet deu conta da morte de 53 civis, incluindo crianças, mas precisou não ter sido possível confirmar o balanço através de fonte independente.

"Lembro a todos os Estados, em particular aos que têm uma influência obre as partes em conflito, que são obrigados pelo direito internacional a fazer tudo ao seu alcance para garantir o respeito pelo direito internacional humanitário, incluindo a proteção de civis", sublinhou Bachelet.

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos apelou também aos beligerantes para que "parem imediatamente" de utilizar armas com munições de dispersão e exortou a Arménia e o Azerbaijão a juntarem-se à centena de países que já ratificaram a Convenção sobre Munições de Dispersão, que interdita o seu uso.

Essas armas contêm inúmeras mini-bombas que se dispersam por uma ampla área, mas nem todas detonam, transformando-se em minas antipessoais, matando e mutilando principalmente civis durante e após os conflitos.

Bachelet apelou ainda às partes em conflito para que se abstenham de utilizar "discursos de ódio".

"O que é necessário da parte de todos, incluindo os líderes políticos, é um diálogo construtivo que vise a proteção dos direitos humanos e a promoção de uma solução política duradoura para o conflito", concluiu.

Enclave separatista arménio em território do Azerbaijão, país vizinho do Irão, o território do Nagorno-Karabakh é palco de violentos combates entre forças arménias e azeris desde 27 de setembro. 

Nagorno-Karabakh, habitado na época soviética por uma maioria arménia cristã e uma minoria azeri muçulmana xiita, efetuou a secessão do Azerbaijão após a queda da URSS, motivando uma guerra com 30.000 mortos e centenas de milhares de deslocados.

A frente está congelada desde um cessar-fogo em 1984, apesar de confrontos regulares. 

Os dois campos rejeitam mutuamente a responsabilidade pelo reinício das hostilidades. 

No exterior, o receio consiste em que o conflito se internacionalize numa região, o Cáucaso do Sul, onde russos, turcos, iranianos e ocidentais possuem interesses, e quando Ancara encoraja a ofensiva de Baku e Moscovo está ligado a Erevan por um tratado militar. 

O Presidente azeri, Ilham Aliev, excluiu qualquer trégua sem uma retirada arménia do Nagorno-Karabakh e acusa a Arménia de pretender envolver a Rússia no conflito, através da sua aliança com Erevan na Organização do tratado de segurança coletiva (OTSC). 

 


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