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Nagorno-Karabakh. Dois jornalistas feridos em conflito sem fim à vista

por Joana Raposo Santos - RTP
Os presidentes de França, Rússia e Estados Unidos (Grupo de Minsk) pediram o "fim imediato das hostilidades". Aziz Karimov - Reuters

Dois jornalistas franceses ficaram feridos durante os confrontos entre Arménia e Azerbaijão, numa altura em que as duas partes parecem desafiar os apelos internacionais ao fim do conflito que já terá feito mais de uma centena de mortos. A mais recente exigência veio da França, Rússia e Estados Unidos, que em conjunto instaram ao "fim imediato das hostilidades".

O Ministério arménio dos Negócios Estrangeiros garantiu que dois jornalistas franceses da publicação Le Monde foram feridos esta quinta-feira pelas forças do Azerbaijão na cidade de Martumi, situada na disputada região de Nagorno-Karabakh.

Na altura do incidente, os jornalistas encontravam-se a ver casas bombardeadas na região pela qual Arménia e Azerbaijão estão a lutar. Os dois profissionais, cujos nomes não foram divulgados, foram de seguida transportados para um hospital.

Um jornal russo avançou, entretanto, que um dos seus jornalistas também foi apanhado pelo bombardeamento em Nagorno-Karabakh, mas que conseguiu esconder-se a tempo num bunker. “Felizmente havia uma cave nas proximidades, e todos foram a correr para lá. Os colegas do Le Monde iam noutro carro”, explicou o jornalista russo Dmitry Elovsky, citado pelo Guardian.

Segundo as autoridades arménias, a área tinha estado “relativamente estável, mas sob tensão” durante a noite anterior, depois de tanto a Arménia como o Azerbaijão terem rejeitado apelos das Nações Unidos e ofertas da Rússia para a mediação das negociações entre as duas partes.

Nagorno-Karabakh é legalmente reconhecido como território do Azerbaijão, mas a população que o habita é maioritariamente arménia. A região foi palco de uma guerra no início dos anos 1990, na qual morreram cerca de 30 mil pessoas, e desde então as autoridades azeris – grupo étnico do Azerbaijão - têm tentado recuperar o seu controlo, se necessário pela força, enquanto as conversações de paz permanecem num impasse há vários anos.

No último domingo as tensões escalaram, com a Arménia a declarar lei marcial e a mobilizar a sua população masculina depois de levar a cabo uma investida militar contra o Azerbaijão. As forças arménias garantem que essa investida apenas se deu em resposta a um ataque aéreo por parte do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh e que terá morto dois civis – uma mulher e uma criança.

Entretanto já terão morrido cerca de uma centena de pessoas, segundo as autoridades e grupos de Direitos Humanos dos dois países.
Grupo de Minsk apela ao cessar-fogo
Mesmo depois de França, Rússia e Estados Unidos – co-presidentes do Grupo de Minsk, criado em 1992 pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa para encorajar as negociações entre Arménia e Azerbaijão – terem lançado um comunicado conjunto no qual condenam o conflito, as duas partes ignoraram os apelos de um cessar-fogo.

No comunicado, os presidentes Emmanuel Macron, Vladimir Putin e Donald Trump pedem o “fim imediato das hostilidades”. “Apelamos ainda aos líderes da Arménia e do Azerbaijão que se comprometam imediatamente a retomar as negociações em boa fé e sem pré-condições”, escreveram os líderes.

Especialistas receiam que o prolongamento deste conflito aumente o risco de arrastar para o mesmo outros poderes regionais, como a Rússia e o Irão. A Rússia, um dos membros do Grupo de Minsk, faz parte de uma aliança militar com a Arménia e possui uma base militar nesse país. No entanto, possui também laços próximos com o Governo do Azerbaijão.

A Turquia já se encontra parcialmente envolvida, depois de ter manifestado publicamente o seu apoio ao Azerbaijão. Empresas turcas de segurança foram inclusivamente acusadas por França de enviarem mercenários sírios para o conflito, algo que Ancara nega.

O Presidente Recep Tayyip Erdogan considerou, aliás, que os países co-presidentes do Grupo de Minsk não têm o direito de apelar ao fim do conflito. “Visto que os EUA, a Rússia e a França negligenciaram este problema durante quase 30 anos, é inaceitável que se envolvam numa tentativa de cessar-fogo”, disse, citado pela BBC.

Para Erdogan, o fim do conflito não será alcançável através de negociações, mas sim com o fim da “ocupação” arménia do território que legalmente pertence ao Azerbaijão.

Também o Azerbaijão defende que a solução do conflito com a Arménia envolve necessariamente a libertação dos territórios ocupados, uma exigência que tem sido apoiada por várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A Arménia, por seu lado, apoia o direito à autodeterminação de Nagorno-Karabakh, defendendo a participação dos representantes do território separatista nas negociações para a resolução do conflito.

c/ agências
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