NATO exige fim da ofensiva turca no nordeste da Síria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, em Ancara numa conferência de imprensa a 11 de outubro de 2019, após reuniões com o executivo turco. Reuters

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, defendeu o fim da ofensiva turca contra as forças curdas no nordeste da Síria.

A posição de Stoltenberg foi expressa durante uma visita a Londres esta terça-feira, durante a qual se reuniu como primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Num comunicado emitido por uma porta-voz do Executivo britânico, "o primeiro-ministro e o secretário-geral da NATO expressaram ambos a sua profunda preocupação com o que se passa no norte da Síria". A Turquia é um dos países membros da NATO, mas enfrenta agora a censura não só dos EUA, da União Europeia, da Rússia e do Governo de Damasco, como da própria Aliança.

"Os dois líderes sublinharam o valor da Turquia como aliado da NATO e reconheceram o papel que tem desempenhado no apoio aos refugiados do conflito sírio. Mas foram claros quanto à necessidade de pôr fim à atual operação turca", acrescentou a porta-voz.


O Conselho de Segurança da ONU deverá reunir-se esta quarta-feira, pela segunda vez numa semana, para debater os mais recentes desenvolvimentos, anunciou a agência Reuters, citando fontes diplomáticas.

A reunião foi pedida pelos cinco membros europeus do Conselho, Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica e Polónia.
Síria reage em força
O Executivo do Presidente sírio Bashar al-Assad estabeleceu na segunda-feira um acordo com os curdos para expulsar a Turquia do território.

Nas últimas horas, o exército sírio assumiu o controlo de uma área de mais de mil quilómetros quadrados em torno da cidade de Manjib, onde se trava uma dura batalha entre as forças turcas e curdas.

A notícia foi avançada pela agência russa de notícias Interfax, citando dados do Ministério russo da Defesa, de acordo com o qual os sírios assumiram o controlo do aeródromo militar de Tabqa, de duas centrais elétricas e de diversas pontes sobre o Rio Eufrates.

O Ministério turco da Defesa revelou por seu lado que, esta terça-feira, um dos seus soldados morreu e outros oito ficaram feridos, tendo sido "neutralizados" 15 soldados curdos. Desde a semana passada, os combates mataram 69 civis, 128 combatentes curdos e 95 pró-turcos.

Lançada na passada quarta-feira, a ofensiva militar turca no nordeste da Síria tem por objetivo declarado estabelecer uma denominada “zona de segurança” – com um alcance de 32 quilómetros em solo sírio – que separe a linha de fronteira da Turquia dos territórios das YPG (Unidades de Proteção Popular). Uma milícia curda que Ancara classifica como organização terrorista.

Até agora, as tropas da Turquia terão já ocupado uma faixa com uma extensão de cerca de 120 quilómetros, desde a localidade fronteiriça de Tel Abyad até Ras al-Ain, a ocidente.
170 mil crianças em risco

A UNICEF fez um balanço de sete dias de operações turcas, as quais levaram à deslocação de quase 70.000 crianças "desde que as hostilidades escalaram."

A organização da ONU para a infância confirma ainda "que pelo menos quatro crianças foram mortas e outras nove feridas no Nordeste da Síria. Sete crianças foram reportadas mortas na Turquia."

Foram registados ataques a uma escola, a três instalações médicas e veículos médicos, assim como a uma estação em A'louk, "que fornece água a cerca de 400.000 pessoas", a qual se encontra agora "fora de serviço".

"Pelo menos 170.000 crianças podem precisar de assistência humanitária devido à violência contínua nesta região", alerta a UNICEF.
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