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Navalny. Kremlin aponta o dedo ao Ocidente nas manifestações pelo opositor de Putin

por RTP
Maxim Shemetov, Reuters

Moscovo volta-se agora para os países que acusa de estarem a apoiar as manifestações que levaram muitos milhares para as ruas em apoio a Alexei Navalny, actualmente o maior opositor do presidente Vladimir Putin. Durante o fim de semana, as ruas e praças russas encheram-se de manifestantes, com a polícia a fazer mais de três mil detenções. A União Europeia fala em "uso desproporcional da força", exige a libertação de Navalny e prepara a imposição de sanções aos responsáveis russos envolvidos nesta onda de detenções.

Os protestos deste fim-de-semana levaram às ruas de dezenas de cidades apoiantes de Alexei Navalny, o opositor de Putin que em Agosto passado sofreu uma tentativa de envenenamento e regressou na passada semana à Rússia após um longo período de convalescença num hospital na Alemanha.

Navalny tinha prometido regressar à Rússia, promessa que concretizou há uma semana, com o avião em que seguia a ser desviado do aeroporto de Vnukovo, onde o aguardavam centenas de apoiantes, e sendo detido à chegada, já no aeroporto de Sheremetyevo.

Alegadamente alvo de uma tentativa de assassinato pelos serviços secretos russos, Alexei Navalny continua a ser a figura central da oposição a Putin, que procura a um mesmo passo neutralizar a acção de Navalny e menosprezar a sua relevância, remetendo-o para um lugar de insignificância.

O porta-voz de Vladimir Putin referiu-se às manifestações do fim-de-semana como um acontecimento que atraiu “meia dúzia de pessoas”, o que é desmentido desde logo pelos números de detenções em massa feitas pelas forças de segurança e pelas imagens que passaram nas redes sociais.

Com os russos a saírem à rua em cerca de uma centena de cidades um pouco por todo o extenso território russo, as manifestações estão a ser classificadas como um protesto de dimensão nunca observada no país.
“Putin é um ladrão”

A adesão dos russos mais jovens é uma das características desta onda de contestação a Putin. Trata-se da tecnologia e do online a funcionar. Esta adesão surge após Navalny ter publicado na Internet investigações relativas a casos de corrupção na hierarquia de Putin, uma das quais visa o próprio presidente.



Putin é acusado de ter utilizado fundos ilícitos na construção de um palácio na costa do Mar negro, um empreendimento que terá custado mais de mil milhões de euros pagos “com o maior suborno da história”. O Kremlin nega que a propriedade pertença ao presidente. Entretanto, a denúncia de Navalny, disponível no Youtube, foi visionada por dezenas de milhões de utilizadores, o que ajudou a espoletar a ira que incendiou as ruas e encheu o ar com a frase “Putin é um ladrão” gritada pelos manifestantes.

As redes sociais foram na Rússia, como sucedeu já em outros momentos recentes, a forma de ampliar o sentimento de frustração da jovem geração russa e que fixaram também os momentos de contestação do último sábado no TikTok, destruindo a tentativa do Kremlin de menorizar os acontecimentos deste fim-de-semana.
União Europeia prepara agravamento de sanções

Numa tentativa de travar a onda mediática que está a atingir a acção do Kremlin, Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, lançou fortes críticas a um apelo da embaixada norte-americana em Moscovo, que aconselhava as pessoas a evitarem as manifestações. Peskov falou em “interferência nos assuntos internos” russos, com a representação americana a sublinhar que se tratava de um procedimento de rotina.

Numa acção mais concreta, a nova Administração Biden já tinha exigido às autoridades russas a libertação de todos os detidos, condenando a reacção violenta da polícia durante o último sábado. É um pedido que encontra eco na posição de outros países, o que levou a uma tomada de posição firme da embaixada russa no Reino Unido, que lançou a acusação ao Ocidente de estar a lançar combustível para a contestação a Vladimir Putin.

A União Europeia pondera entretanto novas sanções dirigidas à Rússia. Em causa estão as detenções dos manifestantes e do próprio líder da oposição, Alexei Navalny, cuja libertação imediata é exigida por Bruxelas. As diplomacias da Estónia, Letónia e Lituânia já fizeram saber que querem medidas firmes contra todos os responsáveis envolvidos nas detenções. Também o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, veio já considerar que estamos perante uma deriva de autoritarismo, apoiando sanções mais duras contra os responsáveis russos.
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