Negociações querem-se "sérias", diz França sobre a crise migratória na Mancha

por Carla Quirino - RTP
Francois Lo Presti - Reuters

O ministro do Interior de França diz estar pronto para uma discussão séria com o governo do Reino Unido, mas sublinha que não será "refém" da política britânica, declarou Gérald Darmanin, numa conferência de imprensa, após uma reunião em Calais. Essa reunião decorreu no domingo, entre várias entidades europeias que discutiram o problema da migração que cruza o Canal da Mancha, mas sem Reino Unido presente.

As relações entre os dois países já estavam tensas com os direitos de pesca pós-Brexit e a implementação do protocolo da Irlanda do Norte. Soma-se agora o desacordo sobre como conter o fluxo de migrantes que saem da costa francesa em direção à inglesa.

"Este encontro não foi anti-inglês. Foi pró-europeu. Nós queremos trabalhar com os nossos amigos e aliados britânicos", afirmou Gérald Darmanin.

"A Grã-Bretanha deixou a Europa, mas não o mundo. Precisamos trabalhar seriamente nessas questões ... sem ser refém da política interna britânica", disse.

O ministro francês acrescentou que o assunto da migração ilegal está em cima da mesa há 25 anos e é hora de Londres ter consciência da gravidade.

"Se os migrantes estão a vir para Calais, Dunquerque ou norte da França, é porque eles são atraídos por Inglaterra, especialmente pelo mercado de trabalho, o que significa que se pode trabalhar em Inglaterra sem nenhuma identificação", afirmou o ministro francês.

"A Grã-Bretanha deve assumir a sua responsabilidade e limitar a atratividade económica", defende Gérald Darmanin.
Gérald Darmanin, ministro do Interior de França em Calais |  Juan Medina - Reuters

Depois da morte de mais 27 pessoas na atravessia do canal da Mancha entre a costa francesa e britânica, Boris Johnson publicou uma carta no Twitter dirigida ao presidente francês, Emmanuel Macron, onde descrevia cinco medidas que os dois países poderiam implementar para impedir que os migrantes chegassem às costas britânicas.

As relações entre Paris e Londres estalaram com a recomendação de Johnson sobre o reenvio dos migrantes ilegais de volta para França.

O governo francês declinou o convite da secretária do Interior britânica, Priti Patel, para uma reunião onde homólogos europeus discutiriam a crise.
Sajid Javid, ministro da saúde do governo de Johnson defendeu a publicação da carta mas advertiu para a necessidade de o Reino Unido estar em sintonia com França para conter o fluxo migratório.

Na reunião de Calais, foi estabelecido uma maior cooperação entre a polícia e a agência de fronteira da UE, Frontex, que concordou em fornecer um avião a partir de 1º de dezembro para monitorizar a costa norte da França.

A comissária de Assuntos Internos da UE, Ylva Johansson, declarou em conferência de imprensa após a reunião no porto francês: "Temos que evitar que vidas sejam perdidas. Temos que evitar que o caos chegue às nossas fronteiras externas."

Acrescentou que os grupos criminosos que organizaram as viagens estão a agir "mais ou menos em escala industrial".

"É por isso que é tão importante ter uma cooperação policial ainda mais estreita com a ajuda e o apoio da Europol", sublinhou a comissária.

A reunião no porto francês contou com os ministros do Interior da França, Holanda, Bélgica e da Comissão Europeia mas sem a presença de funcionários do Reino Unido ou da secretária do Interior, Priti Patel.

Patel diz ter ficado satisfeita em saber da decisão dos voos de vigilância da Frontex, mas descreveu a ausência do Reino Unido na reunião em Calais como "lamentável".

A secretária do Interior britânica diz que está a desenvolver conversações urgentes com ministros europeus durante semana, mas individualmente.
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