Netanyahu: Estado palestiniano poria Israel "em perigo"

por RTP
Ronen Zvulun, Reuters

O primeiro-ministro israelita, à cabeça da coligação de direita e extrema-direita, prometeu ontem que a primeira coisa a fazer, caso ganhe as eleições, será anexar os colonatos criados em território palestiniano. Netanyahu fundamentou a declaração com o "perigo" representado por um Estado palestiniano.

Benjamin Netanyahu, a bater-se por uma renovação do seu mandato nas eleições que terão lugar na terça feira, declarou ontem em entrevista à cadeia Channel 12 News, e segundo citação do diário israelita Haaretz: "Um Estado palestiniano porá em perigo a nossa existência e eu resisti a uma enorme pressão ao longo dos últimos oito anos. Nenhum outro primeiro ministro resistiu a uma pressão assim. Nós temos de controlar o nosso destino".

Tirando as conclusões deste postulado geral, o líder da direita prosseguiu com a pergunta retórica: "Iremos nós dar o passo seguinte? Sim. Eu vou alargar a soberania [israelita], mas não vou fazer distinção entre os blocos de colonatos e os [colonatos] isolados, porque cada colonato é um israelita e eu não vou entregá-lo à soberania palestiniana".

E reiterou, desafiante: "Eu não vou dividir Jerusalém, não vou evacuar nenhuma comunidade e vou garantir que controlaremos o território a ocidente do Jordão".

A uma outra pergunta sobre a comunidade beduína de Khan al-Ahmar, de onde prometera expulsar a população beduína, não o tendo feito devido aos protestos internacionais, Netanyahu afirmou que "isso será feito, eu prometi e vai suceder na primeira oportunidade".
O factor Trump
No mesmo sentido, Benjamin Netanyahu vinha afirmando nos últimos dias da campanha eleitoral que, caso o "plano de paz" do presidente norte-americano Donald Trump previsse a evacuação de "um único" colono, esse plano ficaria sem efeito. A afirmação parecia não só um gesto de autonomia, mas mesmo um quase-desafio àquele que tem sido o grande protector do mesmo Netanyahu, ao adverti-lo de que não o faria renunciar à presença de qualquer colono em territórios que a comunidade internacional reconhece como palestinianos.

No entanto, nada disto diminui ou relativiza a protecção dispensada por Trump a Netanyahu, e que se tem plasmado nos últimos anos em iniciativas devastadoras para o que fora o consenso das grandes e médias potências internacionais em torno dos Acordos de Oslo, de 1993.

Entre essas iniciativas contou-se a campanha norte-americana para arrastar atrás da sua Embaixada todas as restantes, na mudança para a metade ocupada de Jerusalém, e o mais recente reconhecimento da anexação israelita dos Montes Golan.

A União Europeia continua a condenar ambas as iniciativas, mas, alentado pelo apoio norte-americano até extremos ainda há pouco tempo impensáveis, Netanyahu poderá ter em vista a jogada mais audaciosa de sempre na Margem Ocidental do Jordão - não apenas como retórica de campanha eleitoral, mas como plano político a aplicar realmente.
Uma "viragem dramática"
Assim, o influente diário da direita israelita Jerusalem Post observa que a entrevista de ontem foi a primeira ocasião, desde a sua tomada de posse em 2009, em que Netanyahu usou a palavra "soberania" para falar sobre o território palestiniano na margem ocidental do rio Jordão.

E, com efeito, até aqui Netanyahu subscrevia a retórica da extrema-direita sobre a anexação de território palestiniano colonizado, mas na prática recuara com certa frequência perante a condenação internacional desse passo. Assim, um estudo muito recente citado pelo Jerusalem Post, mostra que 25 iniciativas legislativas no Knesset (parlamento israelita), visando precisamente a anexação de colonatos, foram torpedeadas, com um ou outro pretexto, pelo primeiro-ministro e seus acólitos parlamentares.

O Jerusalem Post sublinha entretanto que tarda em ser divulgada alguma reacção da Casa Branca à espectacular certificação do óbito da política de dois Estados e dos Acordos de Oslo, tal como Netanyahu a emitiu na entrevista de ontem.

O grupo da esquerda judaica norte-americana J Street, reagiu com rapidez fulminante: "Ao passo que a Administração Trump activamente dotou Netanyahu de capacidade e poder para a jogada dos colonatos, todos os representantes eleitos americanos e candidatos presidenciais responsáveis devem deixar claro que a declaração de Netanyahu é perigosa e inaceitável - e que quaisquer anexações na Margem Ocidental trariam uma crise de primeira ordem à relação EUA-Israel".

O artigo de análise do Jerusalem Post, admitindo embora que a retórica eleitoral de Netanyahu possa acomodar-se a alguma pressão internacional a partir de terça feira, não deixa de assinalar que a promessa de anexação marca "uma viragem dramática" na política israelita e torna "completamente irrelevantes" as reivindicações palestinianas de um regresso às fronteiras de 1967 como fronteiras entre os dois Estados que supostamente haviam de partilhar o território da Palestina histórica.
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