Nobel da Paz vai ao Tribunal Internacional de Justiça tentar defender militares do genocídio em Myanmar

por RTP
Yves Herman - Reuters

Aung San Suu Kyi, Nobel da Paz e líder do governo de Myanmar, está no Tribunal Internacional de Justiça para ser ouvida no caso do genocídio contra os Rohingya. Suu Kyi deverá defender os militares do país contra as acusações. A audiência vai durar os próximos três dias.

Desde 2017, foram mortos milhares de Rohingya, uma minoria ética em Myanmar, e mais de 700 mil fugiram para o Bangladesh. O caso foi tornado público por Abubacarr Marie Tambadou, ministro da Justiça da Gâmbia, que apresentou queixa no Tribunal Internacional de Justiça contra Myanmar.

Aung San Suu Kyi será ouvida em tribunal na próxima quarta-feira, uma vez que é líder do governo de Myanmar desde 2016, antes do início do alegado genocídio.

A Nobel da Paz declarou, em novembro, que iria pessoalmente liderar a defesa do seu país, em Haia.

Suu Kyi não tem controlo sobre o exército de Myanmar, no entanto, é acusada pelas Nações Unidas de “cumplicidade” nas operações militares.

Com este processo, a Gâmbia pretende que sejam tomadas medidas para proteger os Rohingya das constantes ameaças e violência.

Diz o ministro da Justiça da Gâmbia, Abubacarr Marie Tamabdou, que “está a acontecer outro genocídio em frente aos nossos olhos e não estamos a fazer nada para o impedir. Isto é uma mancha na nossa consciência. Esta acusação não é contra Myanmar, é contra toda a humanidade.”

O Tribunal Internacional de Justiça não tem forma de obrigar Myanmar a terminar com as perseguições, no entanto, uma nota de culpa terá repercussões a nível económico. Para que Myanmar seja considerado culpado, o tribunal tem de ver provadas as “intenções de destruir em parte ou totalmente” os Rohingya.

No início de 2017 existiam cerca de um milhão de Rohingya em Myanmar, a maioria a viver no Estado de Rakhine. Apesar disso, Myanmar não considera este grupo étnico como sendo legal e nega o seu direito à cidadania do país.

De acordo com o Tribunal Internacional de Justiça, os militares estão acusados de “tentar destruir os Rohingya, em parte ou como um todo”, através de homicídios, violações e destruição das suas casas.

Milhares de Rohingya fugiram para o Bangladesh desde que as operações militares começaram. Até 30 de setembro, existiam no Bangladesh cerca de 915.000 refugiados Rohingya, sendo que cerca de 80 por cento chegou entre agosto e setembro de 2017, altura em que as operações militares começaram.
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