Nuclear. Potências europeias admitem repor sanções ao Irão

por RTP
A bandeira da República Islâmica do Irão, frente à sede da Agência Internacional de Energia Atómica, AIEA, em Viena de Áustria, em julho de 2019 Reuters

França, Reino Unido e Alemanha mostraram-se esta segunda-feira "extremamente preocupadas" com o retomar do programa nuclear iraniano, e, a par da União Europeia, apelaram ao Irão para cumprir o Acordo de 2015, sob pena de sofrer consequências, incluindo a reposição de sanções.

Em comunicado, os três países e Federica Mogherine, responsável pelas políticas diplomáticas da União Europeia, criticaram o recomeço do enriquecimento de urânio na central nuclear de Fordow, anunciada pelo Irão na semana passada e já confirmada pela Agência Internacional de Energia Atómica, AIEA.

Os quatro signatários do comunicado consideram a iniciativa iraniana inconsistente com o Acordo de 2015, no qual o Irão aceitou suspender o seu programa nuclear, incluindo o enriquecimento de urânio, em troca do fim das sanções e do regresso à comunidade internacional.

Referindo-se ao Acordo pela sua designação oficial, França, Reino Unido, Alemanha e UE, afirmaram esta segunda-feira estar "prontos a considerar todos os mecanismos incluídos no JCPOA, incluindo o mecanismo de resolução de controvérsias, para resolver as questões relacionadas com a implementação, por parte do Irão, dos seus compromissos assumidos no JCPOA".

Os três países europeus apelaram ainda o Irão a respeitar e a colaborar com os inspetores da AIEA, depois da detenção de uma inspetora há duas semanas, acusada de tentativa de sabotagem de uma central iraniana.
Vestígios de urânio em local secreto
A AIEA, que confirmou o reinício da atividade de enriquecimento de urânio quarta-feira passada na central de Fordow, a sul da capital iraniana, Teerão, revelou esta tarde que foram detetadas, perto desta cidade, "partículas de urânio" de fabrico humano "num local que o Irão não declarou à agência".

Também a AIEA não adiantou publicamente pormenores sobre a localização da descoberta.

A notícia foi saudada em Israel, como a confirmação da denúncia israelita e norte-americana, feita há um ano, de que o Irão tinha um "armazém atómico secreto".

Na altura, altos responsáveis dos serviços secretos israelitas afirmaram à agência Associated Press, sob anonimato, que o alegado local no Irão armazenava materiais nucleares não declarados.

Referiram ainda a existência de "várias outras" instalações nucleares clandestinas, sob a supervisão do Ministério da Defesa do Irão e não sob o controlo da agência civil iraniana para a Energia Atómica.
Exigências do Irão
O JCPOA, assinado pela União Europeia, pelos três países europeus referidos e pelo Irão, assim como pela China, Rússia e Estados Unidos, está em risco de soçobrar quatro anos após ser assinado.

O primeiro a denunciá-lo foram os EUA, sob Donald Trump, depois de acusar Teerão de violar os termos acordados.

Nos meses mais recentes, pressionado por novas sanções norte-americanas que lançaram em recessão a ainda frágil economia do país, Teerão exigiu aos restantes signatários do JCPOA que encontrassem soluções para tornar ineficazes as ameaças dos EUA.

Considerando que estes nada fizeram, Teerão tem vindo desde maio a recuar lentamente nos seus compromissos, retomando oficialmente o seu programa nuclear, ao mesmo tempo que garante estar pronto a regressar ao cumprimento do texto, desde que tenha garantias de que o mesmo será feito pelas potências internacionais.
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