A União Europeia está a um passo de atingir um ponto sem retorno no que diz respeito à confiança dos seus cidadãos, no atual contexto da pandemia de Covid-19. O sinal amarelo é acionado em entrevista ao diário espanhol El País pelo primeiro-ministro de Itália, o mais fustigado dos Estados-membros. Sobre o seu país, Giuseppe Conte situa-o no “fase mais aguda”, em que que “é difícil fazer previsões exatas”.
“Os peritos ainda são prudentes, mas é razoável pensar que estamos próximos do pico. No sábado superámos as dez mil vítimas e isso fere-nos profundamente e deve alertar a comunidade internacional”, começa por afirmar Giuseppe Conte.
“Mas ao mesmo tempo também tivemos ontem o número recorde de curados: 1454. Quero expressar a nossa proximidade e solidariedade com o Governo espanhol e a sua população. É um drama que conhecemos muito bem e posso imaginar as dificuldades que atravessam”, prossegue.
“Queremos sair o quanto antes desta crise para, entre outras coisas, poder ajudar com médicos, ventiladores e dispositivos de proteção pessoal outros países como Espanha”, enfatiza Conte, na entrevista agora publicada por El País.
“Uma partida histórica”
Quanto à forma como os diretórios europeus têm reagido à propagação da pandemia entre os Estados-membros da União Europeia, Conte é taxativo: “Neste momento, na Europa, joga-se uma partida histórica”.
“Esta é uma crise sanitária que acabou por explodir no campo económico e social. É um desafio histórico para toda a Europa. E espero de verdade, tendo um ânimo fortemente europeísta, que [a União Europeia] saiba estar à altura desta situação. Se não o conseguir… Estamos a limitar direitos constitucionais dos nossos cidadãos e a Europa deve reagir evitando erros trágicos”, alerta o primeiro-ministro italiano, que se pronuncia também sobre a resistência alemã e holandesa a emissões de eurobonds no atual contexto de crise.
“Alguns países não se dão conta das fortes restrições que esta emergência vai produzir no plano económico. Itália e Espanha estão mais expostas, neste momento, mas todos estarão”, vinca Conte.
“Os números, desgraçadamente, aumentam em todos os países e é uma emergência sanitária e económica que afeta toda a UE. Ademais, esses países pensam com um olhar velho, antigo. Uma ótica inadequada para esta crise. Este é um choque simétrico que afeta todos e é excecional, como sublinhou de forma acertada o presidente Pedro Sánchez. Por isso, há que responder com uma reação forte e unitária, que recorra a instrumentos extraordinários”, sustenta.
Plano europeu
Giuseppe Conte defende mesmo a criação de um plano de recuperação europeia, um mecanismo comunitário que permita apoiar “toda a economia” da União.
“O problema não é quando se sairá desta recessão, é sair o mais cedo possível”, advoga, par acrescentar que “o tempo é chave” e a “urgência” é “máxima”.
“Não penso num instrumento em particular, podemos recorrer a uma grande variedade. Mas este é o momento de introduzir uma ferramenta de dívida comum europeia que nos permita vencer o mais depressa possível esta guerra e relançar a economia. Nenhum país, incluindo os que acreditam que agora sofrem um impacto menor, podem excluiu-se desta grave crise”, insiste.
“A Europa deve responder a desafios globais de mercado. Responder de forma unitária permitir-lhe-á competir melhor”.
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