O aviso de Conte. "O problema não é sair da crise, é sair o mais cedo possível"

por Carlos Santos Neves - RTP
“Estamos na fase mais aguda. É difícil fazer previsões”, afirma o primeiro-ministro italiano, entrevistado pelo jornal espanhol El País Palazzo Chigi - EPA

A União Europeia está a um passo de atingir um ponto sem retorno no que diz respeito à confiança dos seus cidadãos, no atual contexto da pandemia de Covid-19. O sinal amarelo é acionado em entrevista ao diário espanhol El País pelo primeiro-ministro de Itália, o mais fustigado dos Estados-membros. Sobre o seu país, Giuseppe Conte situa-o no “fase mais aguda”, em que que “é difícil fazer previsões exatas”.

No espaço de um mês, as autoridades sanitárias transalpinas registaram 10.779 vítimas mortais da doença causada pelo novo coronavírus, em mais de 73.800 casos. Esta é “a fase mais aguda”, nas palavras do chefe do Executivo de Itália.Questionado sobre as previsões de Roma para o fim da política de confinamento em Itália, Giuseppe Conte frisa quer “as medidas devem ser graduais”.


“Os peritos ainda são prudentes, mas é razoável pensar que estamos próximos do pico. No sábado superámos as dez mil vítimas e isso fere-nos profundamente e deve alertar a comunidade internacional”, começa por afirmar Giuseppe Conte.

“Mas ao mesmo tempo também tivemos ontem o número recorde de curados: 1454. Quero expressar a nossa proximidade e solidariedade com o Governo espanhol e a sua população. É um drama que conhecemos muito bem e posso imaginar as dificuldades que atravessam”, prossegue.

“Queremos sair o quanto antes desta crise para, entre outras coisas, poder ajudar com médicos, ventiladores e dispositivos de proteção pessoal outros países como Espanha”, enfatiza Conte, na entrevista agora publicada por El País.
“Uma partida histórica”
Quanto à forma como os diretórios europeus têm reagido à propagação da pandemia entre os Estados-membros da União Europeia, Conte é taxativo: “Neste momento, na Europa, joga-se uma partida histórica”.

“Esta é uma crise sanitária que acabou por explodir no campo económico e social. É um desafio histórico para toda a Europa. E espero de verdade, tendo um ânimo fortemente europeísta, que [a União Europeia] saiba estar à altura desta situação. Se não o conseguir… Estamos a limitar direitos constitucionais dos nossos cidadãos e a Europa deve reagir evitando erros trágicos”, alerta o primeiro-ministro italiano, que se pronuncia também sobre a resistência alemã e holandesa a emissões de eurobonds no atual contexto de crise.

“Alguns países não se dão conta das fortes restrições que esta emergência vai produzir no plano económico. Itália e Espanha estão mais expostas, neste momento, mas todos estarão”, vinca Conte.

“Os números, desgraçadamente, aumentam em todos os países e é uma emergência sanitária e económica que afeta toda a UE. Ademais, esses países pensam com um olhar velho, antigo. Uma ótica inadequada para esta crise. Este é um choque simétrico que afeta todos e é excecional, como sublinhou de forma acertada o presidente Pedro Sánchez. Por isso, há que responder com uma reação forte e unitária, que recorra a instrumentos extraordinários”, sustenta.
Plano europeu

Giuseppe Conte defende mesmo a criação de um plano de recuperação europeia, um mecanismo comunitário que permita apoiar “toda a economia” da União.

“O problema não é quando se sairá desta recessão, é sair o mais cedo possível”, advoga, par acrescentar que “o tempo é chave” e a “urgência” é “máxima”.

“Não penso num instrumento em particular, podemos recorrer a uma grande variedade. Mas este é o momento de introduzir uma ferramenta de dívida comum europeia que nos permita vencer o mais depressa possível esta guerra e relançar a economia. Nenhum país, incluindo os que acreditam que agora sofrem um impacto menor, podem excluiu-se desta grave crise”, insiste.

“A Europa deve responder a desafios globais de mercado. Responder de forma unitária permitir-lhe-á competir melhor”.
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