O Holocausto, Zuckerberg e o negacionismo. Uma nova polémica

por RTP
Os comentários de Zuckerberg foram alvos de críticas. Charles Platiau - Reuters

Em entrevista divulgada esta semana no site Recode, Mark Zuckerberg disse que não ia proibir posts no Facebook que negassem o Holocausto. Depois de várias críticas, o número um da rede social emitiu um esclarecimento.

Randi Zuckerberg, irmã de Mark, disse em comunicado remetido à CNN que “banir os comentários das redes sociais não fará com que desapareçam”, referindo ainda a importância de um debate sobre o papel das empresas de tecnologia nestes domínios.

Os comentários nas redes sociais e as críticas por parte de entidades judaicas fizeram com que, horas depois das primeiras declarações, Zuckerberg escrevesse um e-mail - publicado no site Recode.

“Sou judeu e há pessoas que negam que o Holocausto tenha acontecido. Pessoalmente acho a negação do Holocausto profundamente ofensiva. Mas no fim das contas não acho que a nossa plataforma deva eliminar essas publicações, porque penso que há coisas em que as pessoas acreditam equivocamente. Não acho que façam isso intencionalmente e eu não pretendia defender a intenção das pessoas que negam isso”, argumentou o CEO.

Quando Kara Swisher, jornalista do Recode, durante a entrevista, afirmou que "quem nega o Holocausto pode ter más intenções", Zuckerberg respondeu: “É difícil contestar e entender a intenção. Acho que por mais repugnantes que alguns exemplos sejam, a realidade é que eu também faço e comento quando falo publicamente”.

Randi disse ainda que o irmão devia “ter usado as palavras de uma forma diferente”. No entanto, lamentou que uma plataforma como o Facebook, que tem conexão com organizações judaicas e pessoas de várias partes do Mundo, por vezes seja uma arma.

“Infelizmente quando damos voz às pessoas, não sabemos se a vão usar bem ou abusar dela”, acrescentou Randi."Maior transparência possível"

Ainda segundo a CNN, Zuckerberg fez um apelo para que as empresas de tecnologia “continuem a trabalhar com a maior transparência possível para continuarem a relembrar as políticas e estarem prontos para agir rapidamente quando for necessário”.

Christoph Heubner, vice-presidente do Comité Internacional de Auschwitz, classificou o argumento de Zuckerberg de “absurdo”. “ Esse homem realmente não sabe o que acontece no mundo à sua volta e que há desenvolvimentos sociais, não só nos Estados Unidos mas também nos países europeus?”, perguntou.
O Facebook tem também sido acusado por investigadores da ONU de facilitar violência contra muçulmanos, reporta a BBC.

Jonathan Greenblatt, presidente da Liga Antidifamação – organização não-governamental judaica nos EUA – afirmou que a negação do Holocausto “é uma tática deliberada usada por antissemitas (…) O Facebook tem uma obrigação moral e ética de não permitir a negação do Holocausto”.

Por sua vez, Abraham Cooper, membro do Centro Simon Wiesenthal destacou que este é “o crime mais documentado da História”.

“Para mim a negação desse crime é baseada numa mentira e não pode ser justificada em nome da liberdade de expressão”, acrescentou.

O Ministério alemão da Justiça anunciou na quinta-feira que o Facebook vai ter de respeitar as leis do país que proíbem a negação do Holocausto, deixando claro que se trata de um crime sujeito a punição. “Não pode haver espaço para o antissemitismo. Isso inclui ataques físicos e verbais contra judeus, assim como a negação do Holocausto”, escreveu a ministra da Justiça, Katerina Barley, no Twitter.

No ano passado, o Facebook também foi alvo de críticas depois de ter divulgado que não bloqueava os posts que negavam o Holocausto nos países onde a prática é ilegal.



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