Frio, assédio por parte dos guardas, ameaças de que eram vítimas se se recusassem a receber atendimento médico, água com demasiado cloro e comida que cheirava mal e preferiam não ingerir, eram as condições a que as crianças estavam sujeitas.
“Todos os dias, os guardas diziam que íamos ser adotados e que nunca mais íamos ver os nossos pais”, disse Angel.
Segundo o jornal El País, os seguranças diziam que por as crianças serem mexicanas deviam estar na parte mais fria da cela, onde estava o ar condicionado. As crianças eram acordadas a meio da noite e, se não o fizessem, batiam-lhes. Angel encontrou-se com a mãe passado um mês, e depois foram libertados.
Cerca de 2.300 crianças estavam separadas dos pais.
O testemunho de Angel é um dos 200 que foram recolhidos por organizações sociais entre junho e julho. As declarações fizeram parte de uma ação judicial contra o Governo de Trump sobre o tratamento de imigrantes. O documento descreve o abuso, o desprezo e as más condições que as crianças e os adultos sofriam.
“Eu não sabia onde estava a minha mãe”, disse Griselda, uma guatemalteca de 16 anos que também foi separada da mãe ao entrar nos Estados Unidos.
O processo conduzido pelo Tribunal Federal em Los Angeles determinou que o governo de Trump estava a violar uma decisão judicial de 1997, em que se estabelece que nenhuma criança pode permanecer mais de 20 dias num centro de detenção, seja sozinha ou com os pais.
A onda de protestos dentro e fora dos Estados Unidos levou Trump a recuar na decisão. No dia 20 de junho, Trump assinou uma ordem para que a separação de pais e crianças parasse.
Segundo o El País, em junho o governo americano tinha 11.351 imigrantes sob sua custódia.
Peter Schey, advogado do Centro de Direitos Humanos e Direito Constitucional, uma das organizações que apresentaram queixa, garantiu que 90 por cento das 200 declarações recolhidas eram “chocantes e terríveis”.
“Crianças a chorar, a tremer, com fome, sede, sono, doentes e aterrorizadas”, escreveu Schey na denúncia, e solicitou a nomeação de um especialista para garantir que as autoridades cumpriam com a decisão judicial de 1997.
No dia 21 junho, um dia depois de Trump ter assinado a ordem para parar a separação, Daise reuniu-se com a filha. “Eles deram-nos comida, mas estava congelada e não dava para comer. Cheirava tão mal que preferimos ficar com fome”, disse Daise M., uma mulher hondurenha de 38 anos, que viajou até aos EUA com a filha depois de ter sido ameaçada de morte no seu país.
“Canil” foi como Daise descreveu as instalações. Segundo o El País, após o reencontro, a filha continuava “deprimida, com pesadelos e muito ansiosa por causa da separação”.