O pesadelo das crianças indocumentadas nos EUA

por RTP
Cerca de 2.300 crianças estavam separadas dos pais. Loren Elliott - Reuters

Frio, assédio por parte dos guardas, ameaças de que eram vítimas se se recusassem a receber atendimento médico, água com demasiado cloro e comida que cheirava mal e preferiam não ingerir, eram as condições a que as crianças estavam sujeitas.

“Pesadelo”. É assim que Angel A., um menino mexicano de 13 anos, descreve o que viveu no centro de detenção para imigrantes em McAllen, no Texas. Angel foi separado da mãe quando tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

“Todos os dias, os guardas diziam que íamos ser adotados e que nunca mais íamos ver os nossos pais”, disse Angel.

Segundo o jornal El País, os seguranças diziam que por as crianças serem mexicanas deviam estar na parte mais fria da cela, onde estava o ar condicionado. As crianças eram acordadas a meio da noite e, se não o fizessem, batiam-lhes. Angel encontrou-se com a mãe passado um mês, e depois foram libertados.
Cerca de 2.300 crianças estavam separadas dos pais.
O testemunho de Angel é um dos 200 que foram recolhidos por organizações sociais entre junho e julho. As declarações fizeram parte de uma ação judicial contra o Governo de Trump sobre o tratamento de imigrantes. O documento descreve o abuso, o desprezo e as más condições que as crianças e os adultos sofriam.

“Eu não sabia onde estava a minha mãe”, disse Griselda, uma guatemalteca de 16 anos que também foi separada da mãe ao entrar nos Estados Unidos.

As autoridades norte-americanas começaram a separar as famílias que tentavam entrar ilegalmente nos EUA desde abril. Sob a doutrina de “tolerância zero”, todos os imigrantes indocumentados eram considerados criminosos mesmo que não tivessem antecedentes criminais. Por esse motivo as crianças eram retiradas aos pais.

O processo conduzido pelo Tribunal Federal em Los Angeles determinou que o governo de Trump estava a violar uma decisão judicial de 1997, em que se estabelece que nenhuma criança pode permanecer mais de 20 dias num centro de detenção, seja sozinha ou com os pais.

A onda de protestos dentro e fora dos Estados Unidos levou Trump a recuar na decisão. No dia 20 de junho, Trump assinou uma ordem para que a separação de pais e crianças parasse.
Segundo o El País, em junho o governo americano tinha 11.351 imigrantes sob sua custódia.
Peter Schey, advogado do Centro de Direitos Humanos e Direito Constitucional, uma das organizações que apresentaram queixa, garantiu que 90 por cento das 200 declarações recolhidas eram “chocantes e terríveis”.

“Crianças a chorar, a tremer, com fome, sede, sono, doentes e aterrorizadas”, escreveu Schey na denúncia, e solicitou a nomeação de um especialista para garantir que as autoridades cumpriam com a decisão judicial de 1997.

No dia 21 junho, um dia depois de Trump ter assinado a ordem para parar a separação, Daise reuniu-se com a filha. “Eles deram-nos comida, mas estava congelada e não dava para comer. Cheirava tão mal que preferimos ficar com fome”, disse Daise M., uma mulher hondurenha de 38 anos, que viajou até aos EUA com a filha depois de ter sido ameaçada de morte no seu país.

“Canil” foi como Daise descreveu as instalações. Segundo o El País, após o reencontro, a filha continuava “deprimida, com pesadelos e muito ansiosa por causa da separação”.
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