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O que esperar da cimeira entre Joe Biden e Vladimir Putin

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Joe Biden e Vladimir Putin irão reunir-se pela primeira vez esta quarta-feira na Suíça, naquela que é uma cimeira há muito esperada. Numa altura em que Washington e Moscovo vivem numa espécie de “paz fria”, os dois líderes tentam travar a tensão crescente e chegar a alguns acordos em áreas de interesse comum. No entanto, prevê-se que as divergências profundas deixem pouca margem para entendimentos.

Tanto Joe Biden como Vladimir Putin reconhecem que a relação entre os dois países está num ponto crítico e não preveem grandes avanços nesta cimeira. “Temos uma relação bilateral que se deteriorou até ao nível mais baixo dos últimos anos”, admitiu o Presidente russo.

Apesar de todas as divergências, os líderes dos Estados Unidos e da Rússia prometem diálogo e cooperação.

O Presidente norte-americano admitiu que seria um passo importante se os EUA e a Rússia pudessem finalmente encontrar “estabilidade e previsibilidade” na sua relação, mas deixou claro que não seguirá os passos dos seus antecessores ao tentar alterar radicalmente os laços dos EUA com a Rússia. “Não estamos interessados num reset nem queremos uma escalada com a Rússia”, admitiu um funcionário da Administração Biden.

Vou deixar claro ao Presidente Putin que há áreas que podemos cooperar se ele assim o desejar”, afirmou Joe Biden. “E se ele optar por não cooperar e agir da forma como agiu no passado, em relação à ciber-segurança e outras atividades, nós iremos responder”, garantiu.

Putin, apesar de reconhecer que a relação com o seu homólogo está num ponto crítico, reconhece, porém, que “ainda existem aspetos que requerem algumas comparações de notas, a identificação e determinação de posições mútuas, para que as questões de interesse mútuo possam ser resolvidas com maior eficácia”, afirmou o líder russo.
Quais os temas em cima da mesa?
Apesar de existirem temas de interesse comum, como o armamento e o aquecimento global, onde alguns especialistas preveem alguns progressos, em cima da mesa estarão maioritariamente temas sensíveis que prometem instalar um clima áspero entre os dois líderes.

Funcionários do Governo de Biden dizem acreditar que será encontrado um “terreno comum” na questão do controlo de armas nucleares, mas essa será uma das poucas áreas onde se espera um entendimento.

Entre os temas delicados em cima da mesa neste primeiro frente-a-frente entre Biden e Putin estará a situação na Bielorrússia, as ameaças de Moscovo à Ucrânia, a prisão e o destino do opositor russo Alexei Navalny, os ciberataques e ainda a troca de prisioneiros
.

Outro dos temas quentes será a interferência russa nas eleições norte-americanas. Depois de Moscovo ter sido acusado de interferir nas eleições de 2016, a favor de Donald Trump, um novo relatório divulgado em março deste ano concluiu que Putin deu também ordens para tentar lesar a candidatura de Biden nas últimas eleições presidenciais, em novembro de 2020.

A equipa de Biden irá também pressionar Vladimir Putin relativamente às suas preocupações sobre a segurança cibernética, depois de várias estruturas dos EUA terem sido alvo, nos últimos meses, de ataques informáticos que se suspeita serem de responsabilidade russa.

Biden exortará ainda Putin sobre os direitos humanos, apelando à libertação do opositor russo Alexei Navalny, que acusa o Kremlin de o ter envenenado
. Putin, que foi apelidado de “assassino” por parte de Biden, deverá reiterar que este é um assunto interno e deixará pouca margem de manobra para discussões.

Apesar de prometer diálogo, Biden disse "não poder garantir que a atitude de Putin vá mudar". "Os autocratas têm um poder enorme e não precisam responder aos cidadãos", afirmou o presidente dos Estados Unidos no final da cimeira do G7, na segunda-feira.

Putin mostrou-se, porém, aberto à troca de prisioneiros, caso os EUA também o façam. “Se concordarmos em extraditar criminosos, claro que a Rússia fará isso, iremos fazê-lo, mas só se a outra parte – neste caso os EUA – aceitar fazer o mesmo e extradite os criminosos em questão para a Federação Russa”, afirmou o Presidente russo.

A cimeira irá decorrer na cidade de Genebra, na Suíça. O último encontro entre líderes dos EUA e Rússia nesta mesma cidade foi em 1985. Ao contrário da cimeira entre Putin e o ex-presidente norte-americano Donald Trump, em 2018, não está agendada uma conferência de imprensa conjunta no final do encontro desta quarta-feira.
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