Grécia sai de oito anos de pacotes de austeridade

por RTP
O ministro grego das Finanças, Euclid Tsakalotos, conversa com o comissário europeu Pierre Moscovici e o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno Julien Warnand - EPA

Reunidos no Luxemburgo, os 19 ministros das Finanças da Zona Euro conseguiram finalmente chegar a acordo, na última madrugada, sobre as modalidades da saída da Grécia do seu terceiro e último resgate. É o ponto final a oito anos de resgates, que possibilita o regresso aos mercados financeiros a partir do verão.

O acordo é "obviamente histórico" por marcar "o final dos últimos resquícios da crise do euro", segundo o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno. Ficam abertas as portas para o retorno da Grécia aos mercados financeiros a 20 de agosto.  

O alívio da enorme dívida grega - cujo rácio sobre o PIB é de 178 por cento - acontece três anos depois de o país ter chegado perto de um Grexit e dez anos após o início de uma violenta crise económica e financeira, cujos efeitos ainda perduram.

Na madrugada desta sexta-feira, os ministros das Finanças decidiram que o período de tolerância de alívio da dívida grega será prolongado por dez anos. "A crise grega termina aqui esta noite", disse o comissário europeu com o portefólio dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici. 

"Este é um bom acordo que permitirá à Grécia ver o futuro com confiança, investir e criar crescimento para o povo grego", saudou, por sua vez, o ministo francês da Economia e das Finanças, Bruno Le Maire.

Durante o período, o país não pagará juros nem capital sobre 40 por cento do stock da dívida de 96 mil milhões de euros, emprestados pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF). Assim, Atenas começará a pagar aos credores internacionais apenas a partir de 2032, em vez de 2022. 

"Conseguimos assegurar uma aterragem suave após este ajustamento longo e difícil. Não haverá programas complementares. Hoje podemos dizer que a Grécia cumpriu e o Eurogrupo também fez a sua parte", declarou Mário Centeno.

"Almofada financeira" de 15 mil milhões

A dívida do país demonstrou que eram necessárias medidas adicionais de alívio para garantir a sua sustentabilidade no futuro. Além do prolongamento por dez anos do prazo de pagamento do empréstimo, a Grécia terá até 2069 para pagar a totalidade das dívidas contraídas com o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).

O Governo de Atenas deverá receber uma última parcela de financiamento, no valor de 15 mil milhões de euros, que permitirá à Grécia sair do programa com uma "almofada" de 24,1 mil milhões de euros, que deverá cobrir as necessidades financeiras para os 22 meses seguintes a 20 de agosto.

O objetivo é fornecer à Grécia medidas suficientemente sustentáveis para tranquilizar os mercados, convencer os investidores a confiar no país e fornecer condições de financiamento a custos razoáveis.

Para além disso, outra das medidas passa por uma vigilância pós-programa reforçada. A monotorização imposta pelo Eurogrupo para Atenas será mais consistente do que aquela decidida para Portugal ou para a Irlanda, por exemplo, mas não será uma supervisão prolongada. 

Até 2022, o país terá que passar por uma auditoria das suas contas públicas quatro vezes por ano pela comissão e pelo MEE. Poderá ainda ver algum do alívio da dívida suspenso no caso de questionamento das reformas aprovadas durante os programas de assistência.
"Últimos resquícios da crise do euro"
"O sucesso da Grécia na saída deste programa marca o fim do último programa que ainda estava ativo e, portanto, o final dos últimos resquícios da crise do euro", disse Mário Centeno à imprensa portuguesa. "É um passo muito relevante na estabilização da área do euro", reforça.

"Este foi um Eurogrupo para recordar. Após oito longos anos, a Grécia vai finalmente concluir a sua assistência financeira e junta-se a Irlanda, Espanha, Chipre e ao meu próprio país, Portugal, no grupo de países a dar a volta à sua Economia e a reconquistar a sua autonomia", acentuou o ministro português das Finanças, na conferência de imprensa no final do Eurogrupo.

A saída da Grécia do terceiro programa de assistência - com prazo previsto a 20 de agosto - representa também o final do ciclo de resgates a países na Zona Euro, entre os quais Portugal, no quadro da crise económica e financeira.

c/ Lusa
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