A China tem sido apontada como um exemplo de sucesso na resposta à pandemia. A “política zero covid” permitiu reduzir substancialmente o número de casos do novo coronavírus, mas a chegada da nova e altamente contagiosa variante, a Ómicron, veio testar esta mesma política. Especialistas preveem que serão anunciadas mais medidas restritivas nos próximos dias, tendo em conta o aparecimento de novos surtos e a aproximação dos Jogos Olímpicos de Inverno. No entanto, consideram que a política de tolerância zero é “insustentável e desnecessária”.
Pelo menos nove cidades em seis províncias chinesas reportaram casos associados à variante Ómicron. Desde 15 de janeiro, Pequim relatou menos de dez infeções locais das variantes Delta e Ómicron. Em comparação com o resto do mundo, numa altura em que vários países atingem recordes de infeções dia após dia, o número de casos em Pequim é apenas uma pequena amostra, mas o suficiente para fazer soar os alarmes na capital chinesa.
O surto em Pequim surge numa altura em que faltam apenas duas semanas para os Jogos Olímpicos de inverno e a poucos dias das celebrações do ano novo chinês, que começam a 1 de fevereiro. Desta forma, a autoridades já começaram a aplicar a política de “tolerância zero”, ao suspenderem voos e rotas ferroviárias e ao cancelarem a venda de bilhetes para os Jogos Olímpicos para o público em geral.
Política zero covid é “insustentável e desnecessária”
Os especialistas acreditam que serão anunciadas medidas mais duras nas próximas semanas, mas questionam a eficácia da “política zero” a longo prazo. Apesar de o método controverso ter apresentado bons resultados, o custo pessoal e social é bastante elevado.
“A deteção da variante Ómicron em muitas cidades da China, incluindo Pequim, mostra o quão difícil pode ser manter a política de zero Covid”, disse o professor Jin Dong-yan, da Escola de Ciências Biomédicas da Universidade de Hong Kong.
Jin Dong-yan considera que a longo prazo, a política de tolerância zero “é insustentável e desnecessária, e a chegada da Ómicron pode torná-la ainda mais desafiadora”. “Mas a China é um navio grande demais para mudar de direção”, acrescentou. “Não tem a sabedoria ou a capacidade de o fazer tão bem quanto Hong Kong ou Taiwam. É desafiador e caro mantê-la ou abandoná-la”, afirmou.
Chen Xi, especialista em saúde pública da escola de saúde pública de Yale, disse que, embora a China continue a insistir na política de “zero Covid”, as autoridades também estão a aguardar para perceber o impacto desta nova variante. “Muitos pensam que a China está a usar apenas a política de tolerância zero, mas, na minha opinião, também está a esperar para ver”, disse Chen Xi, citado por The Guardian, acrescentando que os especialistas chineses perceberam que a natureza da doença também está a evoluir.
“De facto, vários especialistas chineses estão agora a observar atentamente até que ponto esta nova variante traria consequências para o sistema de saúde e quão preparada a China estaria para enfrentar esse desafio”, disse Chen Xi. “É importante ter esses dados antes de Pequim decidir finalmente se irá aliviar as medidas gradualmente”, explicou.
O número total de casos ativos na China continental é atualmente de 3.173, entre os quais 12 em estado grave. Desde o início da pandemia, 105.484 pessoas foram infetadas no país e 4.636 morreram.