ONG denunciam redução da ajuda do Reino Unido ao Iémen

por Lusa

Uma centena de organizações não-governamentais (ONG) condenaram hoje numa carta ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a decisão de Londres de reduzir a ajuda atribuída ao Iémen, país envolvido num conflito e cenário de uma grave crise humanitária.

O grupo de 101 entidades, que inclui organizações como a Oxfam, a Christian Aid, a Save the Children ou a Care International, afirmou na missiva que o Governo britânico está a cometer um "erro de julgamento" ao afastar-se dos países pobres ou afetados pela guerra, argumentando que a reputação do Reino Unido ficará prejudicada.

"A História não julgará esta nação com benevolência se o Governo decidir distanciar-se do povo iemenita e assim destruir a reputação mundial do Reino Unido como um país comprometido em ajudar os mais necessitados", frisaram as organizações signatárias da carta.

Na segunda-feira, quando foi realizada pela ONU uma conferência virtual para angariar fundos para o Iémen, o Reino Unido prometeu pelo menos 87 milhões de libras (cerca de 100 milhões de euros) em ajuda, um valor que representou uma redução de quase metade face aos anos anteriores (160 milhões de libras em 2020 e 200 milhões em 2019).

Esta decisão de Londres foi igualmente criticada no seio da própria maioria conservadora de Boris Johnson, segundo as agências internacionais.

"Reduzir a ajuda ao Iémen - um país à beira da fome - é uma traição aos valores britânicos e à pretensão do Reino Unido de se afirmar na liderança mundial", defendeu o diretor-geral do núcleo britânico da Oxfam, Danny Sriskandarajah.

"A redução da ajuda vai privar de uma tábua de salvação vital milhões de pessoas no Iémen que não podem alimentar as suas famílias, que perderam as suas casas e cujas vidas estão ameaçadas pelo conflito e pela [doença] covid-19", prosseguiu o representante, exortando Boris Johnson a parar com as "imorais" vendas de armas que alimentam o conflito no território iemenita.

Em termos globais, o Governo britânico anunciou, em novembro passado, uma redução de cerca de quatro mil milhões de libras (4,6 mil milhões de euros) nas verbas destinadas para a ajuda internacional, fundos que abrangem países como a Somália, Sudão do Sul, Síria ou Nigéria.

O Iémen é palco de uma guerra desde 2014 entre os rebeldes Huthis, apoiados por Teerão, e as forças do Presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, que desde março de 2015 é apoiado por uma coligação militar internacional árabe, cujo principal pilar é a Arábia Saudita.

Em 2014, os Huthis tomaram a capital iemenita, Sanaa, e grande parte do norte do país.

A guerra já causou cerca de 130 mil mortos, sobretudo civis, e provocou a pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU.

Em outubro passado, a edição de 2020 do Índice Global da Fome (IGF) colocou o Iémen entre os países no mundo que mostram níveis alarmantes de fome.

A agência da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários advertiu recentemente que mais de 16 milhões de pessoas no Iémen vão passar fome este ano, sendo que cerca de meio milhão já vive em condições semelhantes.

Na segunda-feira, a ONU mostrou-se dececionada com a resposta dos doadores internacionais, após recolher menos de metade dos fundos que pediu para responder à crise humanitária no Iémen e evitar a fome.

No mesmo dia, a ONU indicou que o total de compromissos obtidos foi de 1,7 mil milhões de dólares (1,41 mil milhões de euros), menos de metade dos 3,85 mil milhões de dólares (3,2 mil milhões de euros) solicitados.

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