Oposição vence em Istambul e Erdogan sofre pior revés em 17 anos

por Carlos Santos Neves - RTP
A eleição na grande metrópole de Istambul foi repetida três meses após as municipais de 31 de março Kemal Aslan - EPA

Ekrem Imamoglu repetiu, no domingo, a vitória nas eleições municipais em Istambul, na sequência da anulação do primeiro escrutínio, há três meses. O candidato da oposição à presidência da câmara do grande centro económico da Turquia infligiu, assim, ao Presidente Recep Tayyip Erdogan a maior derrota nas urnas em quase duas décadas.

Quando estavam já contados mais de 99 por cento dos boletins, Ekrem Imamoglu reunia 54 por cento dos votos, contra 45 por cento do candidato apoiado por Erdogan, o antigo primeiro-ministro Binali Yildirim.

Imamoglu fora declarado vencedor das municipais em Istambul a 31 de março, obtendo então uma vantagem de 13 mil votos sobre Yildirim. Número que levou a formação de matriz islamista do Presidente turco, o AKP, a invocar “irregularidades em massa”, reclamando a repetição do escrutínio.

José Pedro Tavares, correspondente da Antena 1 na Turquia

O campo da oposição denunciou, por sua vez, um “golpe contra as urnas” e fez do processo de repetição uma “batalha pela democracia”.

Ekrem Imamoglu recolheu agora mais 800 mil votos do que o adversário. E Binali Yildirim foi lesto a reconhecer a derrota: “Felicito-o e desejo-lhe boa sorte. Espero que sirva bem Istambul”.
“Um novo começo”
No momento de celebrar a vitória, Imamoglu, figura do partido social-democrata e secular CHP, não hesitou em transpor para a esfera nacional o resultado que alcançou em Istambul, ao clamar que este significa “um novo começo para a Turquia”. Ao mesmo tempo, estendeu um ramo de oliveira a Recep Tayyip Erdogan, convidando o Presidente a “trabalhar em harmonia”.A vitória de Imamoglu deu lugar a festejos nas ruas de Istambul, a grande metrópole com mais de 15 milhões de habitantes que liga o ocidente ao oriente.


Também o Chefe de Estado turco, que pugnou diretamente pela anulação da votação do final de março – e cuja carreira política nasceu em Istambul -, cumprimentou o candidato da oposição.

Além de Istambul, o AKP perdeu, nestas municipais, a capital Ancara. Isto ao cabo de 25 anos de confortáveis maiorias do flanco conservador islamista. Resultados que não serão alheios à situação económica do país, a braços com uma inflação de 20 por cento, elevados níveis de desemprego e a quebra da lira.

O desfecho do processo eleitoral de Istambul coincide com o início do julgamento de 16 pessoas acusadas de tentativa de “derrube do Governo” na vaga de protestos de 2013. Entre os acusados, que arriscam a pena de prisão perpétua, estão o empresário e filantropo Osman Kavala - detido durante mais de 600 dias, tornou-se uma figura de proa para os opositores de Erdogan e as organizações de defesa dos Direitos Humanos, que acusam o poder central de ter em curso uma “caça às bruxas”.

Em declarações citadas pela France Presse, Andrew Gardner, responsável da Amnistia Internacional na Turquia, afirma que a acusação “não comporta uma sombra de prova” de que os acusados “tenham estado implicados em qualquer atividade criminal e ainda menos que tenham conspirado para derrubar o Governo”.

Seis dos acusados, que deixaram entretanto a Turquia, vão ser julgados à revelia.

c/ agências
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