Orçamento UE. Líderes diferem nos interesses mas convergem na rejeição da proposta

por Lusa
Riccardo Pareggiani - EPA

Líderes da União Europeia (UE) manifestaram hoje interesses diferentes relativamente ao orçamento plurianual para 2021-2027, mas convergiram na rejeição da proposta em discussão, apresentada pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que prevê cortes na coesão e agricultura.

Em declarações prestadas à imprensa à chegada à cimeira europeia extraordinária, em Bruxelas, na qual se discutirá o próximo orçamento da UE a longo prazo, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disse que, "realmente, [a proposta de Charles Michel] não é boa".

Apesar de notar que a Holanda está disposta a aumentar a contribuição para o orçamento comunitário a longo prazo, o governante estipulou limites: "Afinal, nós na Holanda, somos uns forretas".

Mark Rutte utilizou esta expressão dois dias depois de o primeiro-ministro português, António Costa, ter defendido num debate na Assembleia da República uma "postura construtiva" de não cedência aos "quatro países forretas" que "defendem o subfinanciamento" no orçamento da UE a longo prazo.

Entre os maiores contribuintes está, também, a Alemanha. Na sua chegada à cimeira, a `chanceler` alemã, Angela Merkel, apontou estar "determinada para encontrar uma solução", mas não manifestou esperança de que os líderes europeus sejam bem-sucedidos.

De acordo com Angela Merkel, os Estados-membros têm de "superar as grandes diferenças", já que "ainda não se conseguiu encontrar o equilíbrio necessário entre os contribuintes líquidos".

"No geral, é complicado. De um lado, estão as expectativas justificadas, por exemplo, dos agricultores e, por outro, [a UE deve] traçar um caminho moderno", referiu a `chanceler` alemã.

O primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel, destacou por seu lado que "a proposta em cima da mesa é fazer mais com menos: menos pessoas e menos dinheiro".

"Não sei se Charles Michel é agora irmão gémeo do [mágico] David Copperfield, mas não sei como isto vai dar certo", ironizou Xavier Bettel, adiantando que "o pior é quando se tira a calculadora para ver o quanto isto custa".

Já o chefe de Governo espanhol, Pedro Sánchez, falou numa proposta "altamente dececionante", da qual Espanha "discorda em muitos aspetos".

"Será uma negociação muito complexa, que se antecipa longa - se calhar [durará] dias ou mesmo semanas", estimou Pedro Sánchez.

E insistiu: "Repito, a proposta é altamente dececionante, tanto para Espanha como para o conjunto da União".

Para o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, "é necessária coerência" entre os 27.

"Não podemos dizer que queremos ser mais ambiciosos e depois não querer dar os recursos", realçou, indicando que França "está disposta" a contribuir mais.

"Se achamos que estes grandes desafios exigem mais Europa, não podemos deixar de alocar mais meios", insistiu Emmanuel Macron.

O responsável garantiu que ficará na cimeira "o tempo que for necessário para defender um orçamento ambicioso".

"Há hipóteses se todos mostrarem espírito de compromisso, [mas] isso pode duras horas, dias, noites. Eu estou pronto", concluiu.

A proposta de Charles Michel estabelece um orçamento plurianual da UE para 2021-2027 de 1,09 mil milhões de euros, equivalente a 1,074% do Rendimento Nacional Bruto (RNB) da UE já sem o Reino Unido - quando a finlandesa era de 1,07% -, e continua a contemplar cortes na Política de Coesão e na Política Agrícola Comum (PAC) face ao quadro atual.

A proposta original da Comissão, que já data do verão de 2018, contemplava um orçamento global para os próximos sete anos com contribuições correspondentes a 1,11% do RNB, enquanto o Parlamento Europeu, que já se pronunciou contra a proposta de Charles Michel, considerando-a manifestamente insuficiente, defende contribuições de 1,3% e ameaça mesmo vetar um acordo que julgue insatisfatório.

De um lado, o grupo alargado de países "Amigos da Coesão", que ainda recentemente esteve reunido em Beja, continua a opor-se firmemente a um orçamento que sacrifique estas políticas.

Do outro, os contribuintes líquidos, e designadamente um `quarteto` formado por Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia -- classificados de "forretas" por António Costa --, continuam a achar que é destinado demasiado dinheiro à Coesão e Agricultura, defendendo antes um maior investimento no que apelidam de "políticas modernas", mas sem nunca ultrapassar o teto global de 1% do RNB.

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