"Os guardiões e a guerra pela verdade". Personalidade do ano da Time vai para jornalistas

por RTP
“Por terem enfrentado grandes riscos na busca pela verdade, pela imperfeita mas essencial procura de factos que são centrais para o discurso civil, por falarem e por divulgarem, os Guardiões” são a “Personalidade do Ano” DR

A revista norte-americana Time atribuiu a um grupo de jornalistas de várias nacionalidades a distinção de “Personalidade do Ano”, intitulando-os de “guardiões”. Em comum, estes jornalistas possuem o facto de terem sido perseguidos ou assassinados por terem exposto verdades inconvenientes.

“Os guardiões e a guerra pela verdade” é o tema atribuído pela Time à distinção deste ano. Entre as personalidades escolhidas encontra-se Jamal Khashoggi, jornalista que em outubro deste ano foi morto no consulado saudita em Istambul.

Esta é a primeira vez que a revista distingue como “Personalidade do Ano” uma pessoa que já não está viva.

Khashoggi era um forte crítico da família real da Arábia Saudita, o seu país de origem, e muitos acreditam que foi o príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman, a orquestrar o assassínio do jornalista. A coroa saudita nega que Bin Salman tivesse conhecimento prévio do sucedido.


A Time Magazine distinguiu ainda Wa Lone e Kyaw Soe Oo, jornalistas da agência noticiosa Reuters que, em setembro, foram detidos em Myanmar depois de terem investigado a morte de dez pessoas de etnia Rohingya.

O Governo de Myanmar condenou os jornalistas a sete anos de prisão, acusando-os de terem acedido ilegalmente a documentos confidenciais.

Também os jornalistas do diário norte-americano The Capital Gazette, que em junho deste ano foram alvo de um tiroteio nos escritórios do jornal, foram considerados “Guardiões”. Cinco dos jornalistas morreram e vários ficaram feridos.

Por fim, a Time distinguiu Maria Ressa, diretora executiva do website noticioso filipino Rappler que, em novembro, foi acusada por evasão fiscal.

Defensores da liberdade de expressão e dos direitos civis acreditam que a acusação faz parte de um esquema desenhado pela administração de Rodrigo Duterte, fortemente criticado pelo Rappler.
"Busca pela verdade"
“Por terem enfrentado grandes riscos na busca pela verdade, pela imperfeita mas essencial procura de factos que são centrais para o discurso civil, por falarem e por divulgarem, os Guardiões” são a “Personalidade do Ano”, escreveu Ed Felsenthal, editor da revista.

“Conforme olhámos para as escolhas, tornou-se claro que a manipulação e abuso da verdade são verdadeiramente o fio condutor em muitas das histórias deste ano”, acrescentou.

Felsenthal justificou a escolha de Jamal Khashoggi com o facto de ser “muito raro que a influência de uma pessoa cresça tanto já durante a sua morte”. O seu assassínio “originou uma reavaliação global do príncipe herdeiro saudita e levou a um olhar mais profundo sobre a devastadora guerra no Iémen”, frisou.

Karl Vick, autor do artigo especial sobre “os guardiões e a guerra pela verdade”, declarou que “esta deve ser uma altura em que a democracia dá um salto, em que uma cidadania informada é essencial”, mas que está a acontecer o contrário.

“A história destas investidas sobre a verdade é, paradoxalmente, uma das mais difíceis de ser contada”, terminou.
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