Países africanos pedem permissão para a venda de marfim

por RTP
O Zimbábue vai também pedir para vender alguns dos elefantes do país Baz Ratner - Reuters

O Zimbábue, o Botswana e a Namíbia estão a preparar-se para pedir à CITES, entidade que proíbe o comércio não regulamentado de espécies ameaçadas a nível global, para terminar com a proibição relativa à compra e venda de marfim. O Zimbábue vai ainda pedir permissão para aumentar a venda de elefantes a outros países, alegando que a seca no país não permite cuidar dos 85 mil exemplares da espécie.

Os três países sul-africanos, onde habitam 61 por cento de todos os elefantes desse continente, irão propor esta alteração na conferência da CITES que irá iniciar-se quinta-feira no Sri Lanka. A última tentativa aconteceu na conferência de 2016, mas o apelo foi na altura rejeitado.

A CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção) é responsável por assegurar que o comércio de animais e plantas não coloca em risco a sua sobrevivência no estado selvagem, sendo expectável que volte a rejeitar o pedido dos três países africanos.

De acordo com o ministro da Informação do Zimbábue, citado pelo The Guardian, já se passaram 13 anos desde a última venda de marfim no país.

“O nosso armazenamento de marfim vale mais de 300 milhões de dólares e não podemos vendê-lo porque os países onde não há elefantes estão a dizer aos países que os têm o que devem fazer com os seus animais”, declarou o secretário do ministro.
“As pessoas estão a morrer”
O Zimbábue irá ainda pedir separadamente à CITES permissão para vender alguns dos elefantes do país, em grande parte devido à escalada de incidentes entre pessoas e estes animais.Entre 2012 e 2018, o Zimbábue vendeu 98 elefantes, especialmente à China.

Nos últimos cinco anos morreram cerca de 200 pessoas devido a ataques de elefantes. Estima-se que 40 por cento destas mortes tenham ocorrido em casos em que os animais invadiram habitats humanos em busca de água.

“As pessoas estão a morrer. Este ano já morreram quatro pessoas” pisadas por estes animais, referiu um porta-voz da Autoridade de Gestão de Parques e Vida Selvagem do Zimbábue. “Estamos a pedir que nos oiçam. Estão a morrer pessoas e a perder-se meios de subsistência. Não podemos apenas sentar-nos e assistir. É uma grande ameaça”.

“Estamos a enfrentar a seca. Como é que vamos cuidar destes elefantes? É por isso que pedimos que seja levantada a proibição do comércio”, sustentou o porta-voz.

O Zimbábue possui cerca de 85 mil elefantes, mas os parques nacionais de conservação da espécie só têm capacidade para 55 mil.
Aumento populacional
A mesma autoridade garante que os agricultores que vivem perto de áreas de conservação já perderam mais de sete mil hectares de cultivos devido aos elefantes.

Por outro lado, o aumento populacional tem levado os habitantes a deslocarem-se a zonas protegidas, como florestas, à procura de terrenos onde possam viver.

O Governo do país tem estado a desenvolver uma política que permita a diminuição do número de conflitos entre pessoas e animais selvagens, frisando que a venda de elefantes contribuiria positivamente neste sentido.

O Botswana também está a considerar levantar a proibição da caça de elefantes e utilizar os animais para a alimentação. Apesar das críticas, o presidente do país, Mokgweetsi Masisi, considera que a caça aumentaria o turismo e permitiria simultaneamente uma melhor gestão da população de elefantes.

Os elefantes africanos, os leões e os hipopótamos são três das espécies presentes nesse continente que surgem na lista de animais em risco de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza, pelo que necessitam de uma maior proteção.
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