Papagaios incendiários ou o pretexto para Israel lançar mega ofensiva contra Gaza

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Amir Cohen, Reuters

Com a fronteira da Faixa de Gaza há meses a ferro e fogo, Avigdor Liberman, ministro israelita da Defesa, vem agora renovar as ameaças à população palestiniana com uma ofensiva mais pesada do que a “Operação Margem Protectora”, que em 2014 fez dois milhares e meio de vítimas durante o mês de Agosto, a maior parte civis impossibilitados de abandonar os territórios. Liberman exige o fim dos ataques com papagaios e balões incendiários, avisando que a máquina de guerra israelita não vai trabalhar “para as aparências”.

A fronteira da Faixa de Gaza com Israel é desde Março o ponto de encontro de milhares de palestinianos que arrancaram nesse mês com centenas de protestos sob a bandeira da “Grande Marcha do Retorno”, movimento inaugurado para assinalar a morte de seis palestinianos, em 1976, quando se manifestavam contra o confisco das suas terras.

Os protestos junto à rede de separação estendem-se desde há meses, tendo desde então assinalado também os 70 anos do Nakba Day (dia da catástrofe), 15 de Maio de 1948, quando foram expulsos de suas casas centenas de milhares de palestinianos com vista à criação do Estado de Israel.
Papagaios e balões incendiários

Contra os snipers e os F16 das forças israelitas, os palestinianos têm vindo a utilizar balões e papagaios incendiários que já custaram aos bolsos de Israel milhares de hectares de terra queimada. Há uma semana, as forças armadas israelitas deixaram uma primeira ameaça quando informaram o Hamas de que estaria em preparação uma grande ofensiva militar nos territórios palestinianos se não pusessem fim aos ataques com os aparatos voadores.

Numa primeira retaliação, Israel anunciou o fecho da passagem na fronteira de Kerem Shalom, principal via de mercadorias para a Faixa de Gaza, deixando apenas uma abertura à ajuda humanitária.

Esta sexta-feira, Avigdor Liberman, um dos falcões do gabinete de Benjamin Netanyahu, renovou o desejo de uma grande ofensiva que coloque ponto final às acções do Hamas. O ministro da Defesa acenou com uma investida de grande envergadura contra a Faixa de Gaza, ainda mais letal do que a “Operação Margem Protectora” desencadeada no Verão de 2014 e que teve o balanço final de mais de 2400 palestinianos mortos, na sua grande maioria civis.
Residentes de Gaza vão pagar o preço da guerra 

Israel está preparada para “realizar uma operação mais extensa e mais dolorosa do que a ‘Operação Margem Protectora’”, anunciou Avigdor Liberman, durante uma conferência de imprensa em Sderot, cidade do sul de Israel, vizinha da Faixa de Gaza.

“Vemos nos jornais que não vamos para a guerra por causa de papagaios e incêndios. No entanto, qualquer pessoa razoável que vê uma floresta queimada ou milhares de hectares de campos agrícolas ardidos entende que esta situação é irracional”, justificou o governante, para acenar aos “residentes de Gaza [que eles] estarão entre aqueles que vão pagar o preço” de uma ofensiva militar.

Avigdor Liberman sugeriu ainda que Telavive estaria aberta a atenuar as restrições económicas que vigoram sobre Gaza em troca “da cessação total do terror e provocações na fronteira”.

“Estamos a tentar ser ponderados e responsáveis, mas os líderes do Hamas não nos deixam outra opção, é uma situação em que teremos de envolver-nos numa grande e dolorosa operação militar, não apenas para as aparências”, avisou o ministro da Defesa.
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