Paquistão. Médicos em greve por falta de materiais de proteção

por RTP
Nadeem Khawer - EPA

Os médicos no Paquistão entraram em greve em dois hospitais no sudoeste de Quetta esta terça-feira, um dia depois de a polícia ter prendido profissionais de saúde que protestavam contra a falta de equipamento de proteção contra o novo coronavírus.

Centenas de médicos e paramédicos protestaram na segunda-feira alegando que o governo paquistanês falhou na entrega dos materiais prometidos e essenciais para os profissionais.

Em consequência, pelo menos 50 médicos e outros profissioanis de saúde foram detidos pela polícia por desrespeitar a proibição de reuniões públicas durante o confinamento imposto como medida no combate à propagação do vírus.

"A polícia da cidade paquistanesa de Quetta prendeu pelo menos 50 médicos que protestavam contra a falta de kits de equipamento de proteção individual (EPI) para profissionais de saúde nas linhas de frente da batalha do país contra o coronavírus", segundo os representantes sindicais.

"Fomos espancados como terroristas em recompensa pelos nossos serviços", disse Yasir Khan, presidente da Associação de Jovens Médicos da província do Baluchistão, numa conferência de imprensa após o protesto.

Nas televisões paquistanesas foram transmitidas imagens de polícias a atacarem com cassetetes os profissionais de saúde, mobilizando-os à força e colocando-os em carrinhas da polícia.

"Depois do que aconteceu, é impossível continuar a trabalhar. Se essa é a recompensa [pelo nosso trabalho], boicotamos os serviços", disse Khan, acrescentando que apenas queriam proteção para continuar a trabalhar.

A Amnistia Internacional condenou a detenção do pessoal médico e exigiu a sua libertação imediata.

"As prisões hoje no Baluchistão são um ataque ao direito [destes profissionais da saúde] de protesto pacífico e uma afronta a quem corre riscos", afirmou a organização não-governamental.

Entretanto, Rahim Khan Babar, porta-voz da Associação de Jovens Médicos, que organizou a manifestação de segunda-feira, afirmou que já tinham sido dadas ordens para libertar os médicos. No entanto, a maioria estava a recusar sair das instituições policiais até que a exigência de reposição de kits de materiais de proteção fosse atendida.
"Já foram dadas ordens para a nossa libertação, mas recusamo-nos a sair, porque nenhuma medida foi tomada. Os médicos vieram buscar equipamentos e foram espancados e depois presos. Que tipo de lei é esta?", argumentou Babar.
Médicos em greve durante pandemia

Depois de um dia de protestos e de muitos colegas presos, muitos médicos e outros profissionais de saúde dos hospitais do sudoeste do Quetta fizeram greve, esta terça-feira, mantendo apenas os serviços mínimos.

"Estamos em greve pela proteção dos nossos médicos e paramédicos", disse um dos médicos detidos, Hanif Luni, líder da associação que organizou o protesto, citado pela Reuters.

Os médicos permaneceram nos serviços de cardiologia e de ginecologia para emergências, esclareceu Luni, acrescentando que a greve se espalhou para outras áreas da província do Baluchistão, da qual Quetta é a capital.

O médico garantiu que os profissionais só querem material e condições para trabalhar em segurança.

A verdade é que, até ao momento, dois médicos morreram depois de contrair o novo coronavírus no Paquistão, país que registou já 4004 casos e 54 mortes devido à Covid-19.

Esta terça-feira, as Forças Armadas paquistanesas prometeram que os médicos que protestaram e foram detidos pela polícia de Quetta vão receber todo o material necessário para enfrentarem a pandemia.

Num comunicado, as Forças Armadas garantem que "os fornecimentos de emergência de equipamentos médicos, incluindo equipamentos de proteção individual, estão a ser enviados para Quetta".
Quetta é a capital do Baluchistão, a maior província do Paquistão, mas também a menos populosa e mais pobre. Os médicos desta região consideram que a falta de preparação do governo levou a condições perigosas para os profissionais de saúde nos principais hospitais no contexto da pandemia.
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