"Pára de gritar". Reveladas transcrições dos últimos minutos de George Floyd

por Joana Raposo Santos - RTP
As transcrições tornam claro que Floyd tentou cooperar com a polícia e que disse não estar a sentir-se bem. Foto: Carlo Allegri - Reuters

Novas transcrições agora divulgadas dos últimos minutos de vida de George Floyd, o afro-americano que no final de maio morreu às mãos da polícia no Minnesota, revelam que o homem disse que não conseguia respirar mais de 20 vezes. Derek Chauvin, o agente que o imobilizou com um joelho sobre o pescoço, respondeu-lhe que "é preciso muito oxigénio para falar" e ordenou-lhe que parasse de gritar.

As últimas palavras de George Floyd – “não consigo respirar” – eram já conhecidas e repetiram-se vezes sem fim durante os protestos antirracismo que marcaram os Estados Unidos nas semanas seguintes à morte do afro-americano.

Até agora, o que se sabia sobre o incidente baseava-se em relatos de testemunhas e em imagens de câmaras de videovigilância. Agora, foram tornadas públicas as transcrições detalhadas do diálogo entre o homem e a polícia, obtidas através das gravações das câmaras corporais que os agentes costumam trazer ao peito. Antes de morrer, Floyd chorou e chamou pela sua mãe, já falecida, e pelos seus filhos. “Mãe, amo-te. Digam aos meus filhos que os amo. Estou morto”, disse, momentos antes de perder a vida.

As transcrições tornam claro que Floyd tentou cooperar com a polícia e que disse não estar a sentir-se bem. “Dói-me o estômago. Dói-me o pescoço. Tudo me dói. Preciso de água ou de alguma coisa, por favor”, implorou. O homem pediu ainda para não ser colocado na viatura da polícia, por ser claustrofóbico.

A determinada altura, e depois de ter repetido mais de 20 vezes que não conseguia respirar, Floyd disse a Chauvin: “Vais matar-me”. O agente respondeu: “Então pára de falar, pára de gritar”. “É preciso muito oxigénio para falar”, acrescentou o polícia.

Ainda segundo as novas transcrições, transeuntes terão dado conta de que Floyd tinha acabado por desmaiar e perguntaram aos polícias se o homem tinha pulso. “Ele nem sequer respira, achas isso bem?”, perguntou alguém que assistia à cena.

Um dos quatro agentes no local, Thomas Lane, perguntou então a Derek Chauvin se sentia a pulsação. Chauvin verificou o pulso do homem e não respondeu ao colega, permanecendo com o joelho sobre o pescoço de Floyd.
“Por favor, não dispare”
As transcrições foram reunidas como parte de um esforço para que o ex-agente Thomas Lane fosse ilibado das acusações de ajudar e instigar o assassinato. O documento inclui 82 páginas de transcrições obtidas através das câmaras corporais desse e de outro agente no local e 60 páginas de transcrições da entrevista de Lane a investigadores.

Floyd foi detido por tentar usar uma nota falsa de 20 dólares para comprar tabaco num supermercado da cidade de Minneapolis. Os quatro agentes envolvidos na sua morte foram despedidos e detidos logo após o incidente.

Thomas Lane, cujos advogados defenderam como sendo novato e vendo em Chauvin uma figura superior a quem tinha de obedecer, terá sido o primeiro a dirigir-se a Floyd após o episódio da nota falsa, quando este estava já num carro, prestes a abandonar o local. Pediu-lhe pelo menos dez vezes que mostrasse as mãos, antes de lhe ordenar a sair do veículo.

Quando estava ainda dentro do carro, Floyd pediu várias vezes desculpa. “Meu Deus. Eu já fui alvejado antes. Fui alvejado da mesma forma, senhor agente, noutra situação”, disse o homem a Lane, que tinha uma na mão. “Senhor agente, por favor não dispare. Por favor”, pediu Floyd, antes de sair do carro e ser imobilizado por Derek Chauvin.

Chauvin, principal interveniente na morte do afro-americano, enfrenta acusações de homicídio em segundo grau, enquanto os outros três ex-polícias - Thomas Lane, Alexander Keung e Tou Thao – são acusados de ajudar e incitar ao homicídio.

c/ agências
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