Partygate. Boris Johnson assume "total responsabilidade" e anuncia mudanças em Downing Street

por RTP
O primeiro-ministro disse ter ficado "chocado" com alguns dos episódios relatados no inquérito interno sobre eventos nos quais diz não ter participado. Reuters

O primeiro-ministro britânico assumiu esta quarta-feira "total responsabilidade" pelas violações de confinamentos cometidas durante a pandemia de covid-19 por membros da sua equipa. Reagindo à divulgação de um inquérito interno às festas em Downing Street, Boris Johnson voltou a pedir desculpas pelo sucedido e anunciou a saída de alguns funcionários, assim como a criação do posto de "secretário permanente" no seu gabinete.

"Assumo total responsabilidade por tudo o que aconteceu sob a minha liderança", disse o líder conservador aos parlamentares, renovando as suas desculpas pelo "partygate", como ficou conhecido o escândalo das festas no número dez de Downing Street, residência oficial de Boris Johnson.

O primeiro-ministro disse ainda ter ficado “chocado” com alguns dos episódios relatados no inquérito interno, relativos a eventos nos quais diz não ter participado.

Argumentando que trabalham “centenas de pessoas” em Donwning Street e que esse número tem aumentado nos últimos anos, Johnson sublinhou que, durante um período de 600 dias, as regras foram quebradas em oito ocasiões.

Esclarecendo que não está a tentar desvalorizar os erros cometidos, mas apenas a fornecer o contexto em que ocorreram, o líder britânico relembrou que alguns dos eventos foram despedidas de funcionários que iam deixar o Governo, “sendo apropriado agradecer a essas pessoas” pelo trabalho que fizeram.

“Alguns desses eventos foram até tarde”, reconheceu Boris Johnson, frisando, porém, que “não teve conhecimento disso”, pois não esteve presente.

“Fiquei surpreendido e chocado com o que descobri”, admitiu, “particularmente com a forma como as equipas de segurança e limpeza foram tratadas”. O chefe de Governo referia-se às conclusões do inquérito interno hoje lançado, segundo o qual houve “vários exemplos de falta de respeito e maus-tratos de funcionários da segurança e limpeza”.
É tempo de “seguir em frente”, diz Johnson
Apesar de insistir que a sua participação em alguns dos eventos em Downing Street foi considerada aceitável pelos investigadores, Boris Johnson admitiu que “estava errado” quando disse, em tempos, que as regras foram cumpridas durante todo o tempo.

O relatório concluiu que a minha participação nestes momentos, tendo sido breve, não desrespeitou as regras. Mas claramente não foi esse o caso em alguns dos eventos depois de eu ter ido embora, ou noutros em que eu não estava sequer no edifício”, esclareceu.

Por estas razões, o primeiro-ministro anunciou mudanças no número dez, nomeadamente uma alteração no corpo de funcionários. Passará também a haver um secretário permanente para o departamento de Boris Johson.

Falando numa “lição aprendida”, o líder britânico diz ser agora tempo de “seguir em frente”.
Johnson resiste aos pedidos de demissão
O inquérito interno às alegadas "festas" em edifícios governamentais no Reino Unido, incluindo a residência do primeiro-ministro, urgiu funcionários e políticos a assumirem a responsabilidade por terem permitido a violação de restrições durante a pandemia.

"Os eventos que investiguei foram presenciados por líderes do Governo. Muitos desses eventos não deveriam ter acontecido", lê-se nas conclusões do relatório levado a cabo pela funcionária pública superior Sue Gray.

O relatório de 37 páginas, que inclui fotografias, afirma também que "alguns dos funcionários mais jovens acreditaram que a participação em alguns destes eventos foi permitida, dada a presença de dirigentes superiores".

A publicação do documento completo, quase seis meses após ter sido pedido, foi atrasada devido à investigação policial ao escândalo pela polícia britânica, que resultou em 126 multas a 83 pessoas.

Johnson pediu desculpa, mas resistiu aos pedidos de demissão da oposição, alegando que não o fez conscientemente. Para forçar a demissão é preciso que 54 deputados apresentem "cartas de desconfiança" no primeiro-ministro, desencadeando assim uma moção de censura, sendo depois necessários 181 votos a favor para originar eleições internas no partido.

c/ agências
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