Peixes de água doce em risco de extinção em todo o mundo

por Inês Moreira Santos - RTP
Russel Cheyne - Reuters

Mais de metade das espécies de peixes conhecidas em todo o mundo são de água doce, mas parece que cerca de um terço das populações globais destes animais está em risco de extinção.

As populações de peixes de ecossistemas como lagos, rios e até pântanos estão em declínio. De acordo com um relatório divulgado esta semana, até um terço das populações globais destas espécies de água doce estão em risco de extinção.

Intitulado "Os Peixes Esquecidos do Mundo", este estudo revela que as populações de peixes migratórios de água doce diminuiram cerca de 76 por cento desde 1970, e que os peixes grandes - aqueles que pesam mais de 30 quilos - praticamente já não existem na maioria dos rios. A população global do destes peixes conhecidos como "megafish"​​ caiu 94 por cento nos últimos anos.

Das espécies conhecidas, já se extinguiram cerca de 80 nos últimos anos, tendo desaparecido 16 só no ano passado.

"No geral, 80 peixes de água doce foram declarados extintos, enquanto outros 10 foram declarados extintos na natureza e 115 foram classificados como "Criticamente em perigo de extinção", revela o documento.

A verdade é que milhões de pessoas dependem dos peixes de água doce para a alimentação e como fonte de rendimento através da pesca e do comércio de animais de estimação. Mas as espécies estão a diminuir, muito por causa da ação humana, como a poluição, a pesca insustentável e as redes de drenagem de rios e pântanos.

"Os peixes de água doce também são essenciais para a saúde de todos os tipos de ecossistemas e sustentam teias alimentares que se estendem de pássaros a ursos e de montanhas a manguezais", lê-se no relatório. "Além disso, impulsionam indústrias de milhões de dólares para os pescadores e amantes de aquários".
Ação humana, poluição e alterações climáticas
Da autoria de investigadores de 16 organizações de conservação - entre as quais a WWF, a London Zoological Society (ZSL), a Global Wildlife Conservation e a Nature Conservancy - o relatório refere que "não há mistério sobre a razão pela qual o número de peixes de água doce está a cair tão vertiginosamente".

A destruição de ecossistemas e de habitats, a má utilização da energia hidroelétrica, a poluição, a extração excessiva de água, a mineração de areia insustentável, a introdução de espécies não nativas invasivas nos ecossistemas e até as alterações climáticas estão entre as principais causas para a diminuição das populações de peixes de água doce.

Além disso, a maioria dos rios em todo o mundo está parcialmente "confinada" em barragens, tem a água extraída para irrigação ou os fluxos naturais interrompidos, dificultando a vida dos peixes de água doce.

"Isto não pode continuar: devemos agir, e devemos fazê-lo com urgência, porque se demorarmos muito será tarde demais", alertam os investigadores.

Usando o Reino Unido como exemplo, os especialista em conservação revela que nas águas dos rios britânicos, o esturjão e o burbot já desapareceram, o salmão está a diminuir drasticamente e a enguia europeia continua em perigo de extinção.

De acordo com o World Wide Fund for Nature (WWF), grande parte deste declínio é provocado pelo mau estado dos rios, principalmente como resultado da poluição, das barragens e do desvio dos esgotos. Segundo dados da agência ambiental, nenhum rio inglês atendia aos mais altos padrões químicos no ano passado e apenas 15 por cento dos rios no Reino Unido foram classificados como estando em bom estado ecológico.

Dave Tickner, do WWF, afirmou que os habitats de água doce são alguns dos mais importantes do planeta, mas estão em declínio catastrófico em todo o mundo.

"A natureza está em queda livre e o Reino Unido não é exceção: a vida selvagem luta para sobreviver, quanto mais prosperar, nas nossas águas poluídas", escreveu o principal conselheiro da organização.

"Se quisermos levar a sério as promessas ambientais dos governos, estes devem agir em conjunto, limpar os rios e restaurar os habitats de água doce".

Os peixes de água doce são um grupo diversificado e único de espécies que não são apenas essenciais para o funcionamento saudável dos rios, lagos e pântanos, mas para a subsistências de milhões de pessoas, principalmente as mais pobres, que também dependem deles para alimentação e comércio.

"Agora é mais urgente do que nunca encontrarmos vontade política coletiva e colaboração efetiva com o setor privado, governos, ONG's e comunidades para implementar soluções baseadas na natureza que protejam as espécies de água doce, ao mesmo tempo que garantem que as necessidades humanas sejam atendidas", disse no relatório Carmen Revenga, da Nature Conservancy.

"Os rios continuam a ser avaliados principalmente como canos de água para cidades, indústria, agricultura e energia, ignorando seus muitos benefícios "ocultos", como a pesca de água doce, que sustentam", alerta ainda o documento.

O relatório alerta ainda que a biodiversidade nos ecossistemas de água doce estava a diminuir duas vezes mais do que a dos oceanos e das florestas.

"Este colapso terá impacto a longo prazo nas comunidades locais e nos ecossistemas como um todo".
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