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Pelo menos 110 mortos no "ataque mais violento do ano" na Nigéria

por Graça Andrade Ramos - RTP
Os ataques do grupos islamita duram há mais de uma década no norte da Nigéria, sem que as autoridades civis e militares consigam controlar os jihadistas Reuters

O grupo islamita Boko Haram será o principal responsável por um autêntico massacre este fim-de-semana, no norte da Nigéria, onde tenta há uma década implementar um Estado sob a sharia, através do terror armado. O mais recente balanço das Nações Unidas aponta para pelo menos 110 mortos e inúmeros feridos, além de múltiplos desaparecidos.

As vítimas eram civis, simples agricultores, "mortos friamente" no sábado, segundo referiu o coordenador da ONU na Nigéria, Edward Kallon.

"No dia 28 de novembro, ao início da tarde, homens armados chegaram de moto e levaram a cabo um ataque brutal contra homens e mulheres que trabalhavam nos campos em Kashobe", referiu Kallon, este domingo. "Pelo menos 110 civis foram mortos friamente e inúmeros outros feridos neste ataque", acrescentou.

Este é já o "ataque mais violento deste ano, contra civis inocentes", classificou o coordenador.

Os primeiros relatos, sábado, davam conta de 43 corpos encontrados "degolados". "É sem qualquer dúvida obra do Boko Haram que opera na área e que ataca frequentemente os agricultores", mencionou Babakura Kolo, líder de um grupo de auto-defesa pró-governamental.

Apesar das suspeitas, o comunicado da ONU não menciona o grupo jihadista nem a sua fação dissidente, o Grupo Estado Islâmico da Africa Ocidental, GEIAO, que têm multiplicado os atos violentos nesta região nigeriana, parcialmente sob seu controle.

O ataque deu-se numa zona de arrozais a menos de 10 quilómetros de Maiduguri, a capital do estado de Borno, epicentro da insurreição islamita. O mês passado, igualmente nos arredores da cidade, outros 22 agricultores haviam sido igualmente massacrados.
Crise alimentar
Tal como os agricultores, também os pescadores e os madeireiros são alvos habituais dos jihadistas, que os acusam de informar o exército regular ou de não pagar o "imposto" decretado pelos islamitas, obrigatório para exercer qualquer atividade económica em certas zonas de Borno.
O ataque do fim-de-semana vitimou várias dezenas de trabalhadores rurais oriundos do estado de Sokoto, mil quilómetros a oeste, que se tinham deslocado a Borno para trabalhar nos arrozais.


O Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, "condenou" sábado à noite em comunicado o "assassínio destes agricultores devotados ao seu trabalho, pelos terroristas". "Todo o país ficou ferido por estes homicídios insensatos", acrescentou.

O ataque coincidiu com o dia das eleições dos representantes e conselheiros regionais das 27 circunscrições do Estado de Borno, um escrutínio sucessivamente adiado desde 2018 por questões de segurança.

As agressões do Boko Haram e do GEIAO têm provocado milhões de deslocados, refugiados em campos protegidos pelo exército e aprovisionados pela ajuda alimentar mundial.

Se estas pessoas não regressarem às suas aldeias as autoridades receiam a eclosão na área de uma crise alimentar sem precedentes, pela falta de plantações e de colheitas.

As comunidades rurais estão "confrontadas com desafios indizíveis", reconheceu a ONU no seu comunicado. Contudo, acrescentou que, "ajudá-los a cultivar as suas terras e a reconstruir os seus meios de subsistência" é a única forma de evitar uma crise alimentar no estado de Borno.

Além dos ataques, a produção agrícola tem sofrido com más colheitas e com as restrições impostas pelo combate à pandemia de Covid-19.
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