Pelo menos 15 mil mulheres violadas durante a Guerra Civil colombiana

por Inês Geraldo - RTP
Relatório revela violência sexual contra mais de 15 mil mulheres na Colômbia Reuters

Um relatório sobre as vítimas da Guerra Civil colombiana revelou esta sexta-feira detalhes sobre milhares de mulheres e raparigas que sofreram abusos sexuais, com metade dos crimes a serem cometidos sobre crianças. O mesmo relatório denuncia a atuação de proprietários de bares colombianos que forçaram mulheres a viverem da prostituição.

O documento foi elaborado pelo Centro Nacional para a Memória Histórica e detalhou o uso de abusos sexuais como arma de guerra. O Centro revelou que todas as fações de guerra, desde as FARC até aos guerrilheiros paramilitares, usaram violência sexual durante cinco décadas de conflito.

Já era sabido que os grupos paramilitares usavam violações como arma de guerra, não havendo muita informação sobre a atuação dos rebeldes das FARC e militares pertencentes ao governo colombiano.

Um ano depois da assinatura de um cessar-fogo entre os guerrilheiros das FARC e o Governo, começa a vir a público mais informação sobre aquelas que foram as vítimas, que pedem justiça para os que sobreviveram.

Documentando as atrocidades causadas, o Centro Nacional revelou que este tipo de crimes são os mais silenciados e que as suas vítimas são esquecidas. Os grupos paramilitares foram responsáveis por um terço dos crimes sexuais cometidos durante a guerra civil colombiana.
Metade das vítimas são menores
Num total de 15 mil vítimas reportadas, o Centro Nacional para a Memória Histórica esclareceu que metade das vítimas tinha menos de 18 anos. Apesar das informações lançadas a público, a instituição realçou que o número é muito maior, devido às vítimas que têm medo de falar das suas histórias.

“Elas ficam caladas porque não há ninguém que as ouça. Nos seus corpos estão gravadas as marcas de uma sociedade que cala as vítimas, de um estado incapaz de lhes fazer justiça, de famílias e comunidades tolerantes perante a desigualdade de género”, realçou o relatório.Os grupos armados utilizavam violações coletivas como imposição do medo em várias comunidades para conseguir o controlo social e militar das regiões. Os alvos eram normalmente mulheres catalogadas como pertencentes a fações rivais e mães que tentavam evitar a radicalização dos filhos.

Há também relatos de proprietários de bares que forçavam raparigas a prostituírem-se.

“As mulheres eram enganadas e levadas para os bares. Não sabiam o que as esperava”, disse um antigo paramilitar citado pelo relatório. “Eram usadas ao máximo durante um ou dois meses e depois mandavam-nas embora”.

O mesmo relatório fala da violência dos grupos paramilitares sobre gays e pessoas transgénero, como medida de correção do comportamento.

Após o acordo conseguido, a Colômbia vai criar tribunais para castigar crimes de guerra cometidos por antigos guerrilheiros, militares do Estado e civis acusados da violação de direitos humanos. Neste momento, os advogados colombianos estão a criar um enquadramento legal para os novos tribunais.

c/Reuters
Tópicos
pub